Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sexta-feira, 29 de julho de 2016

NA FONTE DO BEM

"Então, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos..."
(Gálatas, 6:19.)
Muita gente só admite auxílio eficiente, quando o dinheiro aparece.

Entretanto, há serviços que o ouro não consegue remunerar. 

Há vencimentos justos para os encargos do professor; todavia, ninguém pode estabelecer pagamento aos sacrifícios com que ele abraça os misteres da escola.

Existem honorários para as atividades do médico; no entanto,pessoa alguma logrará recompensar em valores amoedados o devotamento a que se entrega o missionário da cura, no socorro aos enfermos. 

Não se compra estímulo ao trabalho. Não se vende esperança nos armazéns.

O sorriso fraternal não é matéria de negócio. 

Gentileza não é artigo de mercado.

Onde a vida te situe, aí recolherás, todo dia, múltiplas ocasiões de fazer o bem.

Nem sempre movimentarás bolsa farta para mitigar a penúria alheia, mas sempre disporás da frase confortadora, da oração providencial, da referência generosa, do gesto amigo.

O Apóstolo Paulo reconhece que, às vezes, atravessamos grandes ou pequenos períodos de inibições e provações, pelo que nos recomenda: “enquanto temos tempo, façamos o bem a todos”; contudo, mesmo nas circunstâncias difíceis, urge endereçar aos outros o melhor ao nosso alcance, porque segundo as leis da vida, aquilo que o homem semeia, isso mesmo colherá.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, 
no livro "Palavras de Vida Eterna". 

terça-feira, 26 de julho de 2016

ONDE ESTÃO?

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” —
Jesus. (Mateus 11:29.)


Dirigiu-se Jesus à multidão dos aflitos e desalentados proclamando o divino propósito de aliviá-los.

— “Vinde a mim! — clamou o Mestre — tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei comigo, que sou manso e humilde de coração!”

Seu apelo amoroso vibra no mundo, através de todos os séculos do Cristianismo.

Compacta é a turba de desesperados e oprimidos da Terra, não obstante o amorável convite.

É que o Mestre no “Vinde a mim!” espera naturalmente que as almas inquietas e tristes o procurem para a aquisição do ensinamento divino. Mas nem todos os aflitos pretendem renunciar ao objeto de suas desesperações e nem todos os tristes querem fugir à sombra para o encontro com a luz.

A maioria dos desalentados chega a tentar a satisfação de caprichos criminosos com a proteção de Jesus, emitindo rogativas estranhas.

Entretanto, quando os sofredores se dirigirem sinceramente ao Cristo, hão de ouvi-lo, no silêncio do santuário interior, concitando-lhes o espírito a desprezar as disputas reprováveis do campo inferior.

Onde estão os aflitos da Terra que pretendem trocar o cativeiro das próprias paixões pelo jugo suave de Jesus-Cristo?

Para esses foram pronunciadas as santas palavras “Vinde a mim!”, reservando-lhes o Evangelho poderosa luz para a renovação indispensável.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier 
no livro "Pão Nosso". 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

CURA MORAL DOS ENCARNADOS


Muitas vezes veem-se Espíritos de natureza má ceder muito prontamente sob a influência da moralização e se melhorar. Pode-se agir do mesmo modo sobre os encarnados, mas com muito mais trabalho. Por que a educação moral dos Espíritos desencarnados é mais fácil que a dos encarnados?

Esta pergunta foi motivada pelo seguinte fato. Um jovem, cego há doze anos, tinha sido recolhido por um espírita dedicado, que se havia empenhado em curá-lo pelo magnetismo, pois os Espíritos haviam dito que isso era possível. Mas o jovem, em vez de se mostrar reconhecido pela bondade de que era objeto, e sem a qual teria ficado sem asilo e sem pão, só teve ingratidão e mau procedimento, e deu provas do pior caráter.

Consultado a respeito, respondeu o Espírito de São Luís:

"Esse jovem, como muitos outros, é punido por onde pecou e suporta a pena de sua má conduta. Sua enfermidade não é incurável, e uma magnetização espiritual praticada com zelo, devotamento e perseverança, certamente teria êxito, ajudada por um tratamento médico destinado a corrigir seu sangue viciado. Já haveria uma sensível melhora em sua visão, que ainda não está completamente extinta, se os maus fluidos de que está cercado e saturado não opusessem um obstáculo à penetração dos bons fluidos que, de certo modo, são repelidos. No estado em que ele se encontra, a ação magnética será impotente enquanto, por sua vontade e sua melhoria, ele não se desembaraçar desses fluidos perniciosos.

É, pois, uma cura moral que se deve obter, antes de buscar a cura física. Uma mudança de direção em seu comportamento é a única coisa que pode tornar eficazes os cuidados de seu magnetizador, que os bons Espíritos procurarão ajudar. Caso contrário, deve-se esperar que ele perca o pouco de luz que lhe resta e que seja submetido a novas e muito terríveis provações que terá de sofrer.

Agi, pois, sobre ele como fazeis com os maus Espíritos desencarnados, que quereis trazer ao bem. Ele não está sob uma obsessão: é sua natureza que é má e que, além disso, perverteu-se no meio onde viveu. Os maus Espíritos que o assediam só são atraídos pelas semelhanças com ele próprio. À medida que ele se melhorar, eles se afastarão. Só então a ação magnética terá toda a sua eficácia. Dai-lhe conselhos; explicai-lhe sua posição; que várias pessoas sinceras se unam em pensamento para orar, a fim de atrair influências salutares sobre ele. Se ele as aproveitar, não tardará a lhes experimentar os bons efeitos, porque será recompensado por uma sensível melhora na sua posição".

Esta instrução nos revela um fato importante, o obstáculo oposto pelo estado moral, em certos casos, à cura dos males físicos. A explicação acima é de uma lógica incontestável, mas não poderia ser compreendida pelos que apenas veem em toda parte a ação exclusiva da matéria. No caso de que se trata, a cura moral do paciente encontrou sérias dificuldades; foi o que motivou a pergunta acima, proposta na Sociedade Espírita de Paris.

Seis respostas foram obtidas, todas concordando perfeitamente entre si. Citaremos apenas duas, para evitar repetições inúteis. Escolhemos aquelas em que a questão é tratada com mais desenvolvimento.

I

Como o Espírito desencarnado vê manifestamente o que se passa e os exemplos terríveis da vida, compreende tanto mais rapidamente o que o exortam a crer e a fazer, por isso não é raro ver Espíritos desencarnados dissertarem sabiamente sobre questões que em vida estavam longe de comovê-los.

A adversidade amadurece o pensamento. Esta expressão é verdadeira sobretudo para os Espíritos desencarnados, que veem de perto as consequências de sua vida passada.

A despreocupação e a ideia preconcebida, ao contrário, triunfam nos Espíritos encarnados; as seduções da vida, e até os seus desenganos, dão-lhes uma misantropia ou uma indiferença completa pelos homens e pelas coisas divinas. A carne lhes faz esquecer o Espírito. Uns, naturalmente honestos, fazem o bem evitando o mal, por amor do bem, mas a vida de sua alma é quase nula; outros, ao contrário, consideram a vida como uma comédia e esquecem seu papel de homens; outros, enfim, completamente embrutecidos e último degrau da espécie humana, nada vendo além, nada pressentindo, entregam-se, como o animal, aos crimes bárbaros, e esquecem a sua origem.

Assim, uns e outros são arrastados pela própria vida, ao passo que os Espíritos desencarnados veem, escutam e se arre¬pendem mais voluntariamente.

LAMENNAIS - (Médium: Sr. A. Didier)

II

Quantos problemas e questões a resolver antes que seja realizada a transformação humana conforme as ideias espíritas! A educação dos Espíritos e dos encarnados, do ponto de vista moral, está entre eles.
Os desencarnados estão desembaraçados dos laços da carne e não mais lhe sofrem as condições inferiores, ao passo que os homens, acorrentados numa matéria imperiosa do ponto de vista pessoal, deixam-se arrastar pelo estado das provas no qual estão mergulhados. É à diferença dessas diversas situações que se deve atribuir a dificuldade que os Espíritos iniciadores e os homens que têm essa missão experimentam para melhorar rapidamente, e, por assim dizer, nalgumas semanas, os homens que lhes são confiados. Ao contrário, os Espíritos aos quais a matéria não mais impõe as suas leis e não mais fornece os meios de satisfazerem seus maus apetites, e que, por consequência, não têm mais desejos inconfessáveis, são mais aptos a aceitar os conselhos que lhes são dados.

Talvez respondam com esta pergunta, que tem a sua importância: Por que eles não escutam os conselhos de seus guias do espaço e esperam os ensinamentos dos homens? Porque é necessário que os dois mundos, visível e invisível, reajam um sobre o outro, e que a ação dos humanos seja útil aos que viveram, como a ação da maior parte destes é benéfica aos que vivem entre vós. É uma dupla corrente, uma dupla ação, igualmente satisfatória para esses dois mundos, que estão unidos por tantos laços.

Eis minha resposta à pergunta feita por vosso presidente.

ERASTO - (Médium: Sr. d’Ambel)

Revista Espírita, julho de 1865 
Questões e problemas

DIFERENTES MANEIRAS DE FAZER A CARIDADE


(Sociedade Espírita de Lyon)

NOTA: A comunicação seguinte foi recebida em nossa presença, no grupo de Perrache:

Sim, meus amigos, virei sempre ao vosso meio, sempre que for chamado. Ontem senti-me muito feliz entre vós, quando ouvi o autor dos livros que vos abriram os olhos testemunhar o desejo de vos ver reunidos, para vos dirigir palavras benevolentes. Para vós todos é ao mesmo tempo um grande ensinamento e poderosa lembrança. Apenas, quando vos falou do amor e da caridade, senti que diversos entre vós se perguntavam: 'Como fazer a caridade? Às vezes não tenho nem o necessário.'

A caridade, meus amigos, se faz de muitas maneiras. Podeis fazê-la por pensamento, palavras e em ações. Em pensamento, orando pelos pobres abandonados, que morreram sem ao menos ter visto a luz. Uma prece de coração os alivia. Por palavras, dirigindo aos vossos colegas de todos os dias alguns conselhos bons. Dizei aos homens amargurados pelo desespero e pelas privações, e que blasfemam o nome do Todo-Poderoso: 'Eu era como vós. Eu sofria, era infeliz, mas acreditei no Espiritismo e, vede, estou agora radiante'. Aos velhos que vos disserem: 'É inútil; estou no fim da carreira; morrerei como vivi'. Respondei-lhes: 'Deus tem para vós todos uma justiça igual. Lembrai-vos dos trabalhadores da última hora'. Às crianças, já viciadas por seu ambiente, que vão vagar pelas estradas, prontas a sucumbir a todas as más tentações, dizei: 'Deus vos vê, caros meninos', e não temais repetir-lhes muitas vezes estas suaves palavras. Elas acabarão germinando em suas jovens inteligências e, em vez de pequenos vagabundos, tereis feito homens. Também isto é caridade.

Vários dentre vós também dizem: ‘Ora essa! Somos tão numerosos na Terra que Deus não pode ver-nos todos’. Escutai bem isto, meus amigos. Quando estais no pico de uma montanha, vosso olhar não abarca os milhares de grãos de areia que formam essa montanha? Então! É assim que Deus vos vê. Ele vos dá o livre-arbítrio, da mesma forma que dais a esses grãos de areia a liberdade de ir e vir, ao sabor do vento que os dispersa. Apenas Deus, em sua infinita misericórdia, pôs no fundo de vosso coração uma sentinela vigilante, chamada consciência. Escutai-a. Ela só vos dará bons conselhos. Por vezes vós a entorpeceis, opondo-lhe o Espírito do mal, e então ela se cala. Tende certeza, porém, que a pobre abandonada se fará ouvir, tão logo lhe tenhais deixado perceber a sombra do remorso. Escutai-a; interrogai-a, e muitas vezes vos achareis consolados pelo conselho que tiverdes recebido.

Meus amigos, a cada regimento novo o general entrega uma bandeira. Eu vos dou esta máxima do Cristo: 'Amai-vos uns aos outros'. Praticai esta máxima. Uni-vos em torno desta bandeira e dela recebereis a felicidade e a consolação.

Vosso Espírito protetor

Revista Espírita, outubro de 1861
Ensinamentos e dissertações espíritas


TRANSMISSÃO DO PENSAMENTO


Meu fantástico

Sob este último título, lê-se na Presse Littéraire de 15 de março de 1854, o artigo seguinte, assinado por Émile Deschamps:

“Se o homem só acreditasse no que compreende, não acreditaria em Deus, nem em si mesmo, nem nos astros que rolam sobre sua cabeça, nem na erva que cresce sob seus pés.

Milagres, profecias, visões, fantasmas, prognósticos, pressentimentos, coincidências sobrenaturais, etc., que pensar de tudo isto? Os espíritos fortes se saem com duas palavras: mentira ou acaso. Nada de mais cômodo. As almas supersticiosas se saem bem, ou não se saem. Prefiro mais estas almas que aqueles espíritos. Com efeito, é preciso ter imaginação para que ela seja doente, ao passo que basta ser eleitor e assinante de dois ou três jornais industriais para saber muito sobre isso e crer tão pouco quanto Voltaire. E depois, prefiro a loucura à tolice, a superstição à incredulidade; mas o que prefiro acima de tudo é a verdade, a luz, a razão; busco-as com uma fé viva e um coração sincero; examino todas as coisas e tomo o partido de não tomar partido por coisa alguma.

Vejamos. Que! O mundo material e visível está cheio de impenetráveis mistérios, de fenômenos inexplicáveis, e não se quereria que o mundo intelectual, que a vida da alma, que já é um milagre, também tivesse os seus milagres e os seus mistérios! Por que tal bom pensamento, tal fervorosa prece, tal outro desejo não teriam o poder de produzir ou atrair certos acontecimentos, bênçãos ou catástrofes? Por que não existiriam causas morais, como existem causas físicas, das quais não nos damos conta? E por que os germes de todas as coisas não seriam depostos e fecundados na terra do coração e da alma, para desabrochar mais tarde, sob a forma palpável de fatos? Ora, quando Deus, em raras circunstâncias, e para alguns de seus filhos, se dignou levantar a ponta do véu eterno e espalhar sobre sua fronte um raio fugidio da chama da presciência, guardemo-nos de gritar que é absurdo e assim blasfemar contra a luz e a própria verdade.

Eis uma reflexão que tenho feito muitas vezes: Foi dado às aves e a certos animais prever e anunciar a tempestade, as inundações, os terremotos. Diariamente os barômetros nos dizem o tempo que fará amanhã; e o homem não poderia, por um sonho, uma visão, um sinal qualquer da Providência, ser advertido algumas vezes de algum acontecimento futuro que interessa à sua alma, à sua vida, à sua eternidade? Não tem pois também o Espírito a sua atmosfera, cujas variações possa pressentir? Enfim, seja qual for a miséria do maravilhoso neste século muito positivo, haveria ainda encanto e utilidade em retirá-lo, se todos aqueles que lhe refletem fracos clarões levassem a um foco comum todos esse raios divergentes; se cada um, depois de haver conscientemente interrogado suas recordações, redigisse de boa-fé e depositasse nos arquivos uma ata circunstanciada do que experimentou, do que lhe adveio de sobrenatural e de miraculoso. Talvez um dia se encontrasse alguém que, analisando os sintomas e os acontecimentos, chegasse a recompor, em parte, uma ciência perdida. Em todo caso, ele comporia um livro que valeria muitos outros.

Quanto a mim, sou aparentemente o que se chama um sujeito, porque tive de tudo isto em minha vida, aliás tão obscura; e sou o primeiro a depositar aqui o meu tributo, persuadido de que essa visão interior tem sempre uma espécie de interesse. Por menor que seja o maravilhoso que vos dou, leitores, isso passou-se em minha vida real. Desde quando aprendi a ler, tudo o que acontece de sobrenatural eu registro no papel. São memórias de um gênero singular.

Em fevereiro de 1846, eu viajava pela França. Chegando a uma rica e grande cidade, fui passear na frente dos seus abundantes e belos magazines. Começou a chover; abriguei-me numa elegante galeria; de repente fiquei imóvel; meus olhos não se podiam desviar da figura de uma jovem, sozinha atrás de uma vitrina de joias. A moça era muito bela, mas não era a sua beleza que me atraía. Não sei que interesse misterioso, que laço inexplicável dominava e prendia todo o meu ser. Era uma simpatia súbita e profunda, desligada de qualquer mistura sensual, mas de uma força irresistível, como o desconhecido em todas as coisas. Fui empurrado como uma máquina para a loja, por um poder sobrenatural. Comprei alguns pequenos objetos e paguei, dizendo:

- Obrigado, senhorita Sara. A jovem olhou-me com um ar um pouco surpreendido.

- Admirai-vos, continuei, que um estranho saiba o vosso nome, um dos vossos nomes; mas se quiserdes pensar atentamente em todos os vossos nomes, eu os direi sem hesitar. Pensareis?

- Sim, senhor, respondeu ela, meio risonha, meio trêmula.

- Pois bem! continuei, olhando-a fixamente no rosto, chamais-vos Sara, Adèle, Benjamine N...

- Está certo, replicou ela, e depois de alguns segundos de estupor, começou a rir francamente, e eu vi que ela pensava que eu tivesse tido informações na vizinhança, o que me divertiu.

Mas eu, que sabia bem que disso não sabia uma palavra, fiquei chocado com essa adivinhação instantânea.

No outro dia, e nos seguintes, corri à bela loja. Minha adivinhação se renovava a cada momento. Eu lhe pedia que pensasse em algo, sem mo dizer e quase que imediatamente lia em sua fronte esse pensamento não verbalizado. Eu lhe pedia que escrevesse com um lápis, algumas palavras que me ocultava e, depois de olhá-la um minuto, eu escrevia as mesmas palavras, na mesma ordem. Eu lia no seu pensamento como num livro aberto, e ela não lia no meu, eis a minha superioridade, mas ela me impunha suas ideias e emoções. Se ela pensasse seriamente num objeto; se ela repetisse intimamente as palavras de um escrito, de súbito eu adivinhava tudo. O mistério estava entre o seu cérebro e o meu, e não entre minhas faculdades de intuição e as coisas materiais. Seja como for, havia-se estabelecido entre nós uma relação tanto mais íntima quanto mais pura.

Uma noite escutei no ouvido uma voz forte que me gritava: Sara está doente, muito doente! Corri à sua casa; um médico a velava e esperava uma crise. Na véspera, à noite, Sara tinha voltado com febre ardente; o delírio tinha continuado durante toda a noite. O médico chamou-me à parte e me disse que temia muito. Dessa peça eu via em cheio o rosto de Sara, e com minha intuição superando a própria inquietude, eu lhe disse baixinho: Doutor, quer saber de que imagens está povoado o seu sono febril? Neste momento ela se julga na grande Ópera de Paris, onde jamais esteve, e uma dançarina corta, entre outras ervas, uma planta de cicuta e lha atira dizendo: É para ti. O médico julgou-me em delírio. Alguns minutos depois a doente despertou pesadamente, e suas primeiras palavras foram: ‘Oh! Como a Ópera é bonita! Mas, por que essa cicuta que me atira aquela bela ninfa?’ O médico ficou estupefato. Foi administrada a Sara uma poção em que entrava a cicuta e ela ficou curada nalguns dias.”

Os exemplos de transmissão do pensamento são muito frequentes, não talvez de maneira tão característica quanto no fato acima, mas sob formas diversas. Quantos fenômenos assim se passam diariamente aos nossos olhos, que são como os fios condutores da vida espiritual, e aos quais, contudo, a Ciência não se digna conceder a menor atenção! Certamente os que os repelem não são todos materialistas; muitos admitem uma vida espiritual, mas sem relação direta com a vida orgânica. No dia em que essas relações forem reconhecidas como lei fisiológica, ver-se-á realizar-se um imenso progresso, porque só então a Ciência terá a chave de uma porção de efeitos aparentemente misteriosos, que prefere negar, por não poder explicá-los à sua maneira e com os seus meios limitados às leis da matéria bruta.

Ligação íntima entre a vida espiritual e a vida orgânica durante a vida terrena; destruição da vida orgânica e persistência da vida espiritual após a morte; ação do fluido perispiritual sobre o organismo; reação incessante do mundo invisível sobre o mundo visível e reciprocamente, tal é a lei que o Espiritismo vem demonstrar, e que abre à Ciência e ao homem moral horizontes completamente novos.

Por que lei da fisiologia puramente material poder-se-iam explicar os fenômenos do gênero do acima referido? Para que o Sr. Deschamps pudesse ler tão claramente no pensamento da moça, era preciso um intermediário entre ambos, um elo qualquer. Medite-se bem o artigo precedente e reconhecer-se-á que esse elo não passa da radiação fluídica, que dá a visão espiritual, visão que não é barrada pelos corpos materiais.

Sabe-se que os Espíritos não necessitam da linguagem articulada. Eles se entendem sem o recurso da palavra, pela só transmissão do pensamento, que é a linguagem universal. Assim acontece por vezes entre os homens, porque os homens são Espíritos encarnados e, por essa razão, gozam, em maior ou menor grau, dos atributos e faculdades do Espírito.

Mas, então, por que a moça não lia o pensamento do Sr. Deschamps? Porque num a visão espiritual era desenvolvida, no outro, não. Segue-se que ele poderia tudo ver, ler nos espelhos espirituais, por exemplo, ou ver à distância, à maneira dos sonâmbulos? Não, porque sua faculdade podia ser desenvolvida apenas num sentido especial e parcialmente. Poderia ele ler com a mesma facilidade o pensamento de todo mundo? Ele não o diz, mas é provável que não, porque podem existir relações fluídicas que facilitem essa transmissão de indivíduo a indivíduo e não existir do próprio indivíduo para uma outra pessoa. Ainda não conhecemos senão imperfeitamente as propriedades desse fluido universal, agente tão poderoso e que desempenha tão importante papel nos fenômenos da Natureza. Conhecemos o princípio, e já é muito para nos darmos conta de muitas coisas; os detalhes virão a seu tempo.
      
Comunicado o fato acima à Sociedade de Paris, um Espírito deu a respeito a instrução seguinte:

(Sociedade Espírita de Paris, 8 de julho de 1864 - Médium: Sr. A. Didier)

Os ignorantes - e os há muitos - ficam cheios de dúvidas e de inquietude quando ouvem falar de fenômenos espíritas. Segundo eles, a face do mundo está derrubada, a intimidade do coração, dos sentimentos, a virgindade do pensamento são lançadas através do mundo e entregues à mercê do primeiro que vier. Com efeito, o mundo estaria singularmente mudado, e a vida privada não mais ficaria oculta por trás da personalidade de cada um, se todos os homens pudessem ler no espírito uns dos outros.

Um ignorante nos diz com muita ingenuidade: Mas a justiça, as perseguições da polícia, as operações comerciais, governamentais, poderiam ser consideravelmente revistas, corrigidas, esclarecidas, etc., com o auxílio desses processos. Os erros estão muito difundidos. A ignorância tem a particularidade de esquecer completamente o objetivo das coisas para lançar o espírito inculto numa série de incoerências.

Jesus tinha razão de dizer: ‘Meu reino não é deste mundo’, o que também significava que neste mundo as coisas não se passam como no seu reino. O Espiritismo, que em tudo e por tudo é o espiritualismo do Cristianismo, pode igualmente dizer às ambiciosas e terroristas ignorâncias, que o seu grande objetivo não é de dar montanhas de ouro a um; de deixar a consciência de um ser fraco à vontade de um ser forte e de reunir a força e a fraqueza num duelo eternamente inevitável e iminente. Não. Se o Espiritismo proporciona satisfações, são as da calma, da esperança e da fé. Se às vezes ele adverte por pressentimentos, ou pela visão adormecida ou desperta, é que os Espíritos sabem perfeitamente que um fato caritativo e particular não transtornará a superfície do globo. Ademais, se observarmos a marcha dos fenômenos, o mal aí tem uma parte mínima. A ciência funesta parece relegada aos alfarrábios dos velhos alquimistas, e se Cagliostro voltasse, certamente não viria armado com a varinha mágica ou o frasco encantado, mas com sua força elétrica, comunicativa, espiritualista e sonambúlica, força que todo ser superior possui em si mesmo, e que toca ao mesmo tempo o cérebro e o coração.

A adivinhação era o maior dom de Jesus, como eu dizia ultimamente. (O Espírito alude a outra comunicação). Destinados a nos tornarmos superiores, como Espíritos, peçamos a Deus uma parte das luzes que ele concedeu a certos seres privilegiados, que a mim próprio concedeu, e que eu poderia ter espalhado mais santamente.

MESMER

OBSERVAÇÃO: Não há uma só das faculdades concedidas ao homem da qual ele não possa abusar, em virtude de seu livro-arbítrio. Não é a faculdade que é má em si mesma, mas o uso que dela se faz. Se os homens fossem bons, nenhuma delas seria temível, porque ninguém as usaria para o mal. No estado de inferioridade em que ainda se acham os homens na Terra, a penetração do pensamento, se fosse geral, sem dúvida seria uma das mais perigosas, porque se tem muito a ocultar, e muitos podem abusar. Mas, sejam quais forem os inconvenientes, se ela existe, é um fato que deve ser aceito, de bom grado ou de mau grado, pois não se pode suprimir um efeito natural. Mas Deus, que é soberanamente bom, mede a extensão dessa faculdade pela nossa fraqueza. Ele no-la mostra de vez em quando, para melhor nos fazer compreender nossa essência espiritual, e nos advertir a trabalhar a nossa depuração para não termos que temê-la. 

Allan Kardec 
(Revista Espírita, outubro de 1864)

FORMAÇÃO MEDIÚNICA


Autor: Emmanuel. Psicografia: Chico Xavier. 
Livro: Seara dos Médiuns
Reunião pública de 6/6/60. Questão nº 200 de 
O Livro dos Médiuns.

Anotando a formação mediúnica, comparemo-la aos serviços do solo. A terra desdobra recursos para sustentação do corpo. A mediunidade cria valores para alimento do espírito.
  
A terra, mesmo quando possuída pela floresta brava, produz, de maneira mecânica, se lhe atiramos algumas sementes; contudo, a lavoura, nesse regime, surgirá em condições anômalas. A mata dominante abafará, decerto, as plantas nascituras. Animais comparecem na posição de primitivos donos da gleba, injuriando-lhes as folhas. Vermes destruidores ameaçam-nas, a cada instante. Enxurrada e sombra constantes constituem-lhes empeço à vida. Mas se o trato de selva for cultivado contra a invasão de todo elemento estranho e mantido em trabalho, conseguiremos, em breve, o celeiro de pão, seguro e rico. Também a mediunidade, mesmo quando encravada no psiquismo de alguém que paixões subalternas dominam, produz, de maneira mecânica, quando se lhe entrega determinado gênero de ação; contudo, a tarefa, nesse regime, surgirá em condições anômalas. Tendências Infelizes abafarão decerto a obra recém-nata. Sentimentos inferiores comparecem na posição de primitivos senhores da alma, inutilizando-lhe as promessas. Agentes da discórdia ameaçam-na, a cada instante. Lodo moral e perseguição gratuita constituem-lhe empeço à vida. Mas se a personalidade mediúnica for educada contra a invasão de toda sombra de ignorância e mantida em serviço, conseguiremos, em breve, o celeiro de luz, seguro e rico.
  
Não há desenvolvimento mediúnico, para realizações sólidas, sem o aprimoramento da individualidade mediúnica. No caso da terra, o lavrador será mordomo vigilante. No caso da mediunidade, o médium será o zelador incansável de si mesmo. E médium algum se esqueça de que é na terra boa abandonada que a praga e a serpente, o espinheiro e a tiririca proliferam mais e melhor.