Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

SIGNIFICADO DO SER EXISTENCIAL


Objetivos da vida humana. Conflitos pessoais. Mitos, ilusão e realidade.  

Objetivos da vida humana  

Ninguém se encontraria reencarnado na Terra, não tivesse a existência física uma finalidade superior. O ser é produto de um largo processo de desenvolvimento dos infinitos valores que lhe dormem em latência, aguardando os meios propiciatórios à sua manifestação. Etapa a etapa, passo a passo, são realizados progressos que se fixam mediante os hábitos que se incorporam à individualidade, que resulta do somatório das vivências das multifárias reencarnações. Erros e acertos constituem recursos de desdobramento da consciência para os logros mais grandiosos da sua destinação, que é a de natureza cósmica, quando em perfeita sintonia com os planos e programas do Universo. Passando o princípio inteligente por diversos patamares do processo da evolução, fixa todas as experiências que lhe constituem patrimônio de crescimento mental e moral, atravessando os períodos mais difíceis e laboriosos da fase inicial, para alcançar os níveis de lucidez que o capacitam à compreensão e vivência dos Soberanos Códigos que regem o Cosmo. No período do pensamento primário tudo é feito mediante automatismos dos instintos, preservando os fenômenos inevitáveis da vida biológica, de modo a poder desenvolver as faculdades do discernimento sob a força do trabalho brutal, suavizando a própria faina com o esforço das conquistas operadas. Nesse ser primitivo as esperanças cantam as expectativas das glórias futuras. Ele olha o zimbório estrelado e não entende as lanternas mágicas rutilando ao longe, que lhe parece próximo. A saga da evolução é longa e, por vezes, dolorosa, deixando-lhe sulcos profundos, que noutras fases, sob estímulos inesperados dos sofrimentos, ressurgem como angústia ou violência, desespero ou amargura que não consegue explicar. Constituirlhe-ão arquétipos a exercerem grande influência no seu comportamento psicológico durante várias existências corporais, assinalando-lhe a marcha ascensional. Mesclam-se, em cada personalidade proveniente das reencarnações, dando surgimento a algumas personificações parasitárias e perturbadoras, que constituem o capítulo das personalidades múltiplas, em forma de comportamentos alienados. A sua evolução psicológica é, também, a mesma antropológica, especialmente nos passos primeiros. Avançando lenta e seguramente, aprendendo com as forças vivas do Universo, entesoura os recursos preciosos do conhecimento que lhe custou sacrifícios inumeráveis no longo curso das experiências, e agora se interroga a respeito da finalidade de todo esse curso de crescimento, descobrindo, por fim, que se encontra no limiar das realizações realmente plenificadoras e profundas, porque são as que significam libertação dos atavismos remanescentes, ampliando as aspirações na área das emoções mais nobres, portanto, menos afligentes, aquelas que não deixam as sequelas do cansaço, da amargura ou do desânimo. A criatura está fadada à felicidade, à conquista do Infinito, além das expressões do espaço. A dor que hoje a comprime é camartelo de estimulação para que saia da situação que propicia esse desagradável fator de perturbação. Compreendendo, por fim, a grandeza do amor, alça--se às cumeadas do trabalho pelo bem geral, empenhando--se na conquista de si mesma, do seu próximo, da vida em geral. Tudo quanto pulsa e vibra interessa-lhe, retira-a da pequenez e conduz à grandeza, trabalhando-lhe o íntimo que se expande e se harmoniza em um hino de confraternização com tudo e com todos, passando a fazer parte vibrante da vida. Esse significado existencial somente é descoberto quando atinge um grau de elevada percepção da realidade, que transcende o limite da forma física, transitória e experimental que, todavia, pode e deve ser cultivada com alegria e saúde integral. Não se creia, portanto, equivocadamente, que a finalidade primeira da conjuntura existencial seja viver bem, no sentido de acumular recursos, fruir comodidades, gozar sensações que se renovam e exaurem, alcançando o pódio da glória competitiva e todos esses equivalentes anelos do pensamento mágico, partindo para as aspirações fenomênicas e miraculosas dos privilégios e das regalias que não harmonizam o indivíduo com ele mesmo. Certamente, na pauta dos objetivos e do sentido existencial, constam as realizações sociais, econômicas, artísticas, culturais, religiosas, todas aquelas que fazem parte do mundo de relações interpessoais. Entretanto, não são exclusivas - metas finais das buscas e das lutas - desde que o ser transpõe os umbrais do túmulo e continua a viver, levando os seus programas de elevação gravados no imo profundo. Lutar sem fadigas exaustivas por conquistar-se, su-perando-se quanto possível, enfrentando os desafios com alegria e compreendendo que são os degraus de ascensão diante dos seus passos - eis como incorporará ao cotidiano os objetivos essenciais do seu aprimoramento físico, emocional e mental.               
    
Conflitos pessoais 

Nesse empreendimento de ascensão inevitável, o ser depara-se com as construções do seu passado nele insculpidas, que se exteriorizam amiúde, afligindo-o, limitando-o. Apresentam-se, essas fixações, como conflitos nas paisagens íntimas, ameaçando a sua realização, a alegria do trabalho, a harmonia da convivência com outras pessoas, transformando-se com facilidade em complexos perturbadores na área da emoção e do comportamento. Não se podem negar os fatores responsáveis por tais distúrbios, a começar pelos comportamentos da gestante, afetando o ser na vida intrauterina e culminando com a convivência em família, particularmente com pais dominadores, mães castradoras, neuróticas, que transferem as suas inseguranças e todos os outros conflitos para os filhos em formação, que se tornam fragilizados sob a alta carga de tensões que se veem obrigados a suportar. Por outro lado, as pressões sociais e econômicas, culturais e educacionais se transformam em gigantes apavorantes que passam a perseguir com insistência o educando, que absorve esses fantasmas e não os digere vindo a temê-los, a detestá-los e a conduzi-los por toda a existência, quando não recebeu conveniente tratamento. E certo que o Espírito renasce onde se lhe torna melhor para o processo da evolução. Como, todavia, ninguém vem à Terra para sofrer, senão para reparar, adquirir novas experiências, desenvolver aptidões, crescer interiormente, todos esses empecilhos que defronta fazem parte da sua proposta de educação, devendo equipar-se de valores e de discernimento para superá-los e, livre de toda constrição restritiva à sua liberdade, avançar com desembaraço na busca da sua afirmação plenificadora.      
    
Esta é, sobretudo, a função da Psicologia, ao penetrar o âmago do ser, para o desalgemar dos conflitos e heranças infelizes que lhe pesam na economia emocional. Sigmund Freud, o insigne Pai da Psicanálise, afirmava com razão muito pessoal que, na raiz de todo conflito neurótico, sempre existe um problema da libido. Não se pode descartar essa manifestação recalcada da libido, nos diversos comportamentos perturbadores que afetam a criatura humana. Isso porque, remanescente das suas experiências coevas, o ser renasce sob as injunções das condutas pelas quais transitou. No complexo de Edipo, por exemplo, detectamos uma herança reencarnacionista, tendo em vista que a mãe e o filho apaixonados de hoje foram marido e mulher de antes, em cujo relacionamento naufragaram desastradamente. No complexo de Eletra, deparamos uma vivência ancestral entre esposos ou amantes, e que as Soberanas Leis da Vida voltam a reunir em outra condição de afetividade, a fim de que sejam superados os vínculos anteriores de conduta sexual aflitiva. Esses amantes reencontrando-se e guardando no inconsciente, isto é, no Espírito, as reminiscências das atividades vividas sob tormentos, sentem os apelos de ontem reaparecerem vibrantes, e, não possuindo uma forte conduta moral, derrapam nas relações incestuosas, portanto infelizes. Mesmo nos complexos de inferioridade como nos de superioridade, ressurge o passado espiritual dominador, provocando os estados mórbidos, que levam ao desequilíbrio, a um passo da alienação mental. Não deixamos de ter em vista os fatores familiares, educacionais, sociais, que pesam na manifestação dessas perturbações, constituindo-se estímulos ao seu surgimento, piorando as tendências inquietadoras, sulcando a psique de forma poderosa.         
Nos quadros fóbicos, podemos encontrar Espíritos que conduzem, no íntimo, pavores que sobreviveram ao fenômeno biológico da reencarnação, cicatrizes do mundo espiritual inferior por onde transitaram, ou do despertamento na sepultura, em face das mortes aparentes, havendo desencarnado, em consequência, por falta de oxigênio, e que reexperimentam o tormento começa na claustrofobia. Outrossim, as recordações de cenas apavorantes de que participaram na multidão como vítimas ou desencadeadores, revivem-nas, inconscientemente, na agorafobia. Nas psicoses depressivas de vária manifestação, convém lembrar a presença da consciência de culpa, que preexiste ao corpo, portanto, à formação psicológica atual, produzindo mecanismos de fuga à ação dinâmica, sob o império, não poucas vezes, de enzimas neuroniais responsáveis pelo desajuste, como de fatores causais próximos e mesmo de obsessões espirituais, que se fazem atuantes no comércio mental com as criaturas humanas. Nesse capítulo, as dolorosas obsessões compulsivas têm suas raízes etiopatogênicas em graves condutas do Espírito nas existências pretéritas, assinaladas pelo descaso à dignidade humana, por desrespeito às leis constituídas... Quando a educação tiver como objetivo a construção do homem integral, os fatores de perturbação cederão lugar a outros tipos de estímulos, que são os edificadores da esperança, mantenedores das aspirações elevadas, no esforço para a superação das heranças doentias que cada um traz em si mesmo. 

Mitos, Ilusão e Realidade.  

Quando a criança não consegue amadurecer psicologicamente após o período de desenvolvimento do seu pensamento mágico, transfere aquelas construções para todas as fases da sua existência física, mantendo-se um indivíduo mendaz, que se refugia na criatividade imaginativa para liberar-se da responsabilidade dos atos imaturos. Essa conduta igualmente tem suas raízes profundas no arquétipo herdado do homem ancestral que viveu o processo de evolução pensante e deixou fixadas no inconsciente coletivo as marcas do trânsito por aquele período. Entretanto, a conduta de pais dominadores, que se sentem compensados pelo amor em carência, com a bajulação e a sujeição da prole, impõe que a fase mítica permaneça na estrutura da personalidade infantil, vendo, inclusive, nos filhos, mesmo adultos, os seres em formação que gostariam de continuar dirigindo. Trata-se de um conflito que se transfere de uma para outra geração, cada vez com resultados mais danosos. A falta de honestidade do adulto para autoanalisar-se e assumir a coragem de libertar-se de todos os impedimentos e amarras, que o detém nas fixações do passado, responde por condutas de tal natureza. A sua insegurança íntima produz o ditador que se cerca de leis injustas e atos arbitrários, de guardas ferozes e cuidados especiais, intimidando, destruindo e fazendo-se detestado como forma de sentir-se realizado. No ódio que lhe votam as vítimas, ele sente-se homenageado, porque temido, transferindo os seus medos em relação a tudo e todos para os demais em relação à sua pessoa. Os mitos, que remanescem do período infantil ou da falta de maturidade do adulto sob a ação de arquétipos específicos, trazem de volta à consideração os velhos conceitos em torno de deuses, semideuses, magos, fadas, fantasmas, crendices, como formas de aguardar proteção em deidades superiores, que chegarão magicamente para o salvar da maldade humana, da sociedade injusta, dos amigos infiéis...  

O pavor que lhe infundia o pai, ao alcançar a idade da razão, transfere-o para Deus, que reflete a imagem detestada do genitor físico, ou para os deuses mais terríveis que a imaginação concebeu nos períodos anteriores da cultura mais primitiva. A mãe arbitrária construirá no inconsciente a bruxa má, invejosa, que será vencida pela interferência da fada madrinha.  
Os conflitos da afetividade no lar inspirarão a confiança em um amor romântico, estilo medieval, que virá arrancar a vítima do encarceramento emocional em que sofre solidão e desconforto. O mestre mesquinho e perverso que mais se compraz em intimidar que em ensinar, estrutura, no psiquismo do educando, o invasor sem alma que lhe penetra o castelo existencial paia destruir, sob pretexto de amizade e ajuda. Soterrados, mas não mortos, os mitos estão nos alicerces do inconsciente, sempre prontos a tomarem de assalto a casa mental e o campo psicológico, levando o indivíduo a fugas ocasionais por intermédio dos sonhos acordados, da fertilidade imaginativa. A vida, para essas pessoas, passa a ter o seu lado de realidade e pleno, embora todas as suas aspirações estejam centradas no mundo do encantamento, certas de que, em um momento ou outro tudo se alterará e viverão felizes para sempre. Essa ilusão de que a vida física é o todo, a proposta essencial do existir, produz terríveis conflitos, porque, confiando com total dedicação no mundo material, as próprias injunções do desenvolvimento do ser apresentam-lhe a fragilidade estrutural em que se apoia, e isso produz-lhe desencanto, dor e desfalecimento nos ideais. A crença firmada na ilusão de que tudo é duradouro, senão eterno, no mundo terrestre, propicia o choque com a realidade dos fenômenos das transformações incessantes, que ocorrem por força da própria transitoriedade da matéria e de tudo quanto ela se reveste. O ser profundo é resistente às situações da mudança das ocorrências humanas ou fenomênicas do habitai, construído de energia pensante, que independe dos fatores transitórios do corpo somático, a ele preexistente e sobrevivente, portanto uma realidade que vence tempo e espaço, avançando sem cessar. 

Os fatos que o demonstram resistem às teses que se lhe opõem e apresentam os resultados filosóficos e psicológicos dos seus conteúdos de segurança. Transitar da ilusão para a realidade é imperativo para a aquisição da harmonia pessoal, da felicidade íntima. Buscar o apoio do conhecimento, a fim de discernir o que é ilusório e o que é verdadeiro, o que tem estrutura resistente ao tempo e às transformações culturais e aquilo que apenas engoda, oferece ensejo de amadurecimento psicológico, de realização interior. Com essa determinação, os apegos perturbadores, os ciúmes injustificáveis, as angústias da ansiedade sem sentido, as decepções infantis, ante os acontecimentos normais do desenvolvimento dos fenômenos, cedem lugar à libertação de pessoas, coisas e prazeres, que, embora sejam motivação para viver, não constituem a única razão da vida. São realidades inalienáveis as ocorrências do nascimento e da morte, da velhice e das doenças, porque fazem parte dos mecanismos da vida física. Tornar mais aprazíveis os dias vividos no corpo, eliminar os fatores de perturbação que tornam a existência insuportável, às vezes, fundamentar o conhecimento por meio das experiências são opções ao alcance de toda pessoa lúcida, que pode conseguir o desejado através do esforço empregado para tanto. Prolongar a existência física é factível, não, porém, indefinidamente, por motivos óbvios. Sendo inevitável a morte própria ou dos seres amados, enfrentá-la com serenidade é um sentido de vida normal, que não deve surpreender, nem magoar. Aceitar os indivíduos como são, eliminando a hipótese de que são perfeitos, deuses ou semideuses do panteão da ilusão, funciona como termômetro para o equilíbrio da emoção em torno da realidade da vida humana. Nem paixão, nem abandono diante da vida, mas consciência de como bem viver no relativo tempo terrestre.

Joanna de Ângelis (Espírito) através de Divaldo Pereira Franco, 
no livro Vida: Desafios e Soluções.

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