Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quarta-feira, 9 de março de 2016

O ESPANTO FILOSÓFICO


Por Daniel Borgoni (danielborgoni@gmail.com)

Na minha adolescência, me lembro do dia em que estava ouvindo música sentado no confortável sofá da sala de onde morava, quando um pensamento me inquietou: e se o sofá em que estava sentado, as paredes ao meu redor, a música que estava ouvindo, a mesa de centro, a estante à minha esquerda, enfim, e se tudo aquilo que estava aparecendo diante de mim não passasse de uma ilusão? Passados uns segundos dessa peculiar e estranha dúvida, voltei a ouvir música; porém, nunca me esqueci dessa inquietação. Anos mais tarde, no início da graduação em Filosofia, me deparei com algo que me fez resignificar àquela experiência. Descobri que, de certa forma, aquela singular dúvida poderia ser expressa pelo problema do mundo exterior, isto é, o que justifica a afirmação de que a mesa à minha frente é exterior à minha mente? Entretanto, mais importante do que descobrir que aquele pensamento poderia ser vinculado a um problema filosófico, foi descobrir que tinha vivenciado algo mais essencial à Filosofia: o espanto filosófico.

Aristóteles dissera que a Filosofia nasce do espanto, uma perplexidade que surge quando miramos nossos olhos no mundo desnudos das nossas crenças e opiniões, ou seja, colocamos o que sabemos em xeque. Embora o espanto não seja suficiente para o filosofar - é preciso também questionamento, debate e reflexão, por exemplo - ele é condição necessária. É o primeiro passo para alcançarmos um saber coerente sobre o mundo em que vivemos, para termos atitudes mais corretas, enfim, para termos conhecimento: crença verdadeira e adequadamente justificada. Pois, pode ser o caso que aquilo que nos parece verdadeiro e óbvio seja inadequadamente justificado. Quando submetemos ao pensamento crítico as explicações estabelecidas para nossas crenças e as justificativas que nos dão para agirmos de um modo e não de outro, descobrimos que muitas delas não têm fundamento sólido, sendo pouco razoáveis e, no limite, incoerentes

Contudo, para nos aproximarmos da verdade, temos que abdicar da zona de conforto que as certezas estabelecidas nos dão; devemos enfrentar o fato de que o que sabemos não é tão sólido e certo quanto nos parecem e nos querem fazer crer. Assim, confrontar valores e costumes enraizados e caminhar pela incerteza e pela dúvida geram desconforto, quando não nos "tiram o chão". Porém, se ponderarmos perdas e ganhos, sem dúvida vale a pena. Afinal, não é alto o preço a se pagar para nos libertarmos das ideias e ideais massificados, das convenções sociais sem sentido, dos costumes e valores eticamente insustentáveis e da submissão a interesses alheios aos nossos. Mais do que nos libertar das pseudoverdades, o espanto filosófico nos desperta para outras possibilidades existenciais que sequer imaginávamos. 

Revista Conhecimento Prático - Filosofia - ano 7 - edição 51 - outubro/novembro 2014. (Grifos nossos).


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