Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quinta-feira, 3 de março de 2016

EVANGELHO PARA UMA NOVA CIÊNCIA

Físico quântico indiano Amit Goswami propõe a conciliação entre a Ciência e a espiritualidade, e contribui para validar conceitos da Psicologia como inconsciente

Por Marcelo Galli*

Publicado originalmente no Portal Ciência e Vida.

O físico quântico indiano Amit Goswami é referência mundial sobre a conciliação entre a "Ciência Dura", mais especificamente a Física Quântica, e a espiritualidade. A nova ciência que ele propõe, segundo o próprio, está ajudando a Psicologia a se desenvolver ao contribuir para a validação de conceitos usados internamente pela disciplina e que não têm lastro científico.

"Na Psicologia está uma das maiores aplicações dessa nova ciência", disse, em entrevista à Psique Ciência & Vida. "Pudemos desde o começo explicar a distinção entre consciência e inconsciência e isso deu um impulso para a Psicanálise, para as teorias de Jung, para a Psicologia de forma geral, e definitivamente para a Psicologia Transpessoal", explicou.

Na visão dele, que se tornou mundialmente conhecido ao participar e expor suas ideias no filme Quem Somos Nós?, de 2005, o Brasil é importante para o desenvolvimento do seu trabalho porque no País as emoções ainda são valorizadas, diferente de muitos países ocidentais, em que a racionalidade é superestimada e menospreza, tais quais as experiências pessoais e profundas como a intuição.  Segundo Amit, o não reconhecimento da emoção é barreira, por exemplo, para se lidar com as emoções negativas. "A economia montada no Ocidente, especialmente nos EUA, é um exemplo de como emoções negativas podem ser dispensáveis, como a ganância. Dessa maneira, fica claro que superestimar a racionalidade é um erro".

Formado em Física Quântica pela Universidade de Calcutá, Índia, Amit é professor emérito do Departamento de Física da Universidade de Oregon, EUA. No Brasil já publicou os seguintes livros pela editora Aleph: A Física da Alma, O Universo Autoconsciente, Criatividade Quântica, Deus Não Está Morto, Evolução criativa das espécies, Médico Quântico e a Janela visionária. O físico esteve recentemente no Brasil divulgando mais um trabalho, O Ativista Quântico, em que ele volta a se apoiar em princípios desse ramo da Física para apontar o potencial da consciência e mostra como essa nova perspectiva pode influenciar a mudança de valores da sociedade e ajudar as pessoas a viverem melhor.

Você acredita que a proposição do seu trabalho, ou seja, a união entre ciência e espiritualidade, seja a expressão de uma nova era que está por vir ou já está acontecendo?
Goswami: Sim, e eu também acredito que dessa vez será uma permanente união porque a Ciência agora é baseada em metafísica espiritual consciência é a base de todo ser graças à Física Quântica. Essa é uma era de integração em geral, especificamente entre a Ciência e a espiritualidade. Esse movimento já acontece em alguma medida, mas tanto na comunidade científica quanto na religiosa há muita inércia. O movimento é lento, mas está tomando forma, podemos esperar muitas mudanças nas próximas décadas.

Qual é o motivo dessa inércia?
Goswami: Existem muitos interesses ocultos. O ponto é que a Ciência teve problemas filosóficos, paradoxos, por décadas. Mesmo quando a Física Quântica apareceu, em 1925, naquela época as pessoas que eram filosoficamente orientadas souberam que a Ciência Clássica materialista não funcionava. Fomos adiante, resolvemos paradoxos, não há questão no espírito da Ciência que possa resistir, mas há muito dinheiro envolvido, as pessoas vivem disso. Demora um tempo para cederem, como a Igreja não cedeu sobre Galileu ou Newton e manteve sua posição por muito tempo. 

Algumas teorias do físico alemão Werner Heisenberg seguem a mesma direção das suas proposições, não?
Goswami: Ele foi o primeiro a sugerir que a consciência é importante na mudança de possibilidades quânticas na realidade. Ele disse que o colapso do evento, nome técnico para a mudança da possibilidade na realidade, é uma mudança do nosso conhecimento. O que é o nosso conhecimento? É o que chamamos de consciência, é saber. Ele estava consciente de que a nossa consciência envolve todas as possibilidades de mudanças na realidade. 

Qual é a explicação quântica para Deus?
Goswami: Na nova ciência, Deus é o agente causal. Interações materiais produzem possibilidades para (Deus) a consciência escolhê-las. A Física Quântica diz que Deus é uma questão científica porque a questão é se Deus tem poder causal. Nessa disciplina temos essas possibilidades quânticas que são previstas pela matemática, mas nossas possibilidades de mudança na realidade, por outro lado, não são previstas pela matemática. A questão que surge é como isso acontece, porque isso de fato acontece.
Em cada observação, em cada experimento, nunca vemos possibilidades, mas eventos nas nossas experiências. Essa é uma questão de Deus. Existe alguma outra causação além da causação material? Esse Deus não é um Deus da tradição religiosa popular, ele é baseado em teoria, em tradições filosóficas espirituais. Por que não admitir que existe uma tradição que essa nova ciência está redescobrindo? A cada momento temos fenômenos que não têm interações materiais, e isso pode ser identificado porque eles têm características de não sinal, não localidade, há uma descontinuidade. Qualquer causação que não é material pode ser chamada dessa maneira.

É uma questão de se acreditar?
Goswami: Não é fé, porque temos teoria e tecnologia para prová-la. É como a eletricidade, você não pode ver, mas está ali. Temos teorias, experimentos datados e tecnologia científica na base dessa nova ciência. Tecnologia que está curando pessoas, que nos dá uma nova fonte de energia que não a material e que pode ser economicamente usada, e que já é utilizada.

No mundo das humanidades, quem você acha que chegou perto de fazer essa ponte entre ciência e espiritualidade?
Goswami: O psicólogo Carl Jung chegou bem perto. Os psicólogos já propuseram essa metafísica espiritual para algumas práticas psicológicas, o que eles chamam de Psicologia Transpessoal. Eles estão em sincronia com a nova visão quântica. E também a medicina alternativa, mas o poder estabelecido impede que essas técnicas sejam ensinadas no ensino da Medicina tradicional. Porém, existem muitas instituições de medicina alternativa que ensinam no mundo todo e estão produzindo conteúdo. Biologia também vai responder às mudanças porque há fatos que o darwinismo não pode explicar.

Na Psicologia, como essa troca pode ajudar a explicar alguns fenômenos?
Goswami: Na Psicologia está uma das maiores aplicações dessa nova Ciência. Na Psicologia Transpessoal temos a metafísica, eles corretamente avançaram no sentido de considerar a consciência como a base do ser humano. Mas a metafísica não tem base científica no sentido que a Psicologia Transpessoal aborda. A Física Quântica está dando as bases científicas para essa disciplina. Sigmund Freud introduziu o conceito de 'inconsciente' e esse termo é usado amplamente em terapia, mas ainda não há bases científicas para comprová-lo. Em ciência materialista, a Psicanálise é denominada de psicologia vodu. Mas pudemos desde o começo explicar a distinção entre consciência e inconsciência, e isso deu um impulso para a Psicanálise, para as teorias de Jung, para a Psicologia de forma geral, e definitivamente para a Psicologia Transpessoal.

Como suas teorias contribuíram para o desenvolvimento de temas da Psicologia?
Goswami: A nova Ciência está me ajudando a integrar ramos e conceitos da Psicologia. Por exemplo, interno e externo, Psicologia Convencional e Psicologia Transpessoal. São coisas difíceis de fundamentar partindo puramente de um ponto de vista psicológico.

Como a cura quântica pode ajudar a Psicologia?
Goswami: Esse é outro exemplo de como conceitos da Física Quântica são cruciais para entender a relação de cura entre mente e corpo.

Quando escuto você falar em consciência coletiva penso sobre as chamadas mídias socias como Facebook e twitter. Você já analisou o fenômeno da mídia social à luz da sua teoria?
Goswami: No mínimo, seremos capazes de utilizar a conexão local para provocar a consciência não local, quando necessário. Essas mídias poderiam ter um componente de coletividade. A interconexão está crescendo em um senso local, mas no futuro seremos capazes de usar esse gatilho local para alcançar consciência não local. Estou estudando sobre o tema. Talvez, com essas comunidades, possamos inventar um tipo de conceito e com mais compreensão fazer nossas interações se tornarem reais e acessar consciência não local de um modo coletivo. A internet trouxe algumas esperanças, mas temos que saber como materializá-las.

Você sempre usa a palavra 'sutil' nas suas entrevistas e escritos. Existe uma falta de sutileza para entender o mundo?
Goswami: Não, eu quero dizer isso mais literalmente. As experiências sutis que temos são verdadeiramente sutis. Por exemplo, elas são privadas. Nossas experiências intuitivas são tão sutis que apenas temos tempo para fazer a representação mental delas quando somos conscientes delas. Temos três compartimentos das nossas experiências internas: sentimento, pensamento e intuição, esses três juntos formam o corpo sutil, e temos o corpo físico.

As teorias de William James sobre consciência influenciaram seu trabalho de alguma maneira?
Goswami: Eu não havia lido James até depois que eu escrevi O Universo Autoconsciente.

Conte um pouco sobre sua aproximação com o psiquiatra tcheco Stan Grof, um dos pioneiros da Psicologia Transpessoal.
Goswami: Fico muito feliz em contar que em uma conferência recente sobre Psicologia Transpessoal em Moscou, enquanto escutava as ideias dele mais uma vez, elas iluminaram em minha mente a maneira como integrar o trabalho dele à corrente principal da Psicologia. Estou escrevendo um artigo sobre o tema. Eu e ele temos algumas ideias paralelas, ele sempre foi muito receptivo em relação ao meu trabalho no sentido de que podemos integrar a Psicologia à Ciência, da maneira que estamos desenvolvendo. O trabalho dele está contribuindo para o desenvolvimento do ser humano porque a nova ciência jogou nova luz sobre a sua teoria. Experiências do tipo pré-natal e perinatal. Através dessas experiências é possível descobrir aspectos da viagem de reencarnação, e a nova Física pode validá-las. Esse é um aspecto interessante do trabalho de Grof.

Alguns estão rotulando a época em que vivemos com a "era da ansiedade". Qual é o estudo do "doutor quântico" ou do "psicólogo quântico" sobre esse fenômeno?
Goswami: Emoções negativas de maneira geral, não só a ansiedade, são o nosso maior problema. Minha solução é tentar fazer circuitos emocionais positivos em massa. De acordo com a nova teoria baseada na ideia do biólogo e pesquisador da telepatia, Rupert Sheldrake, de campos não locais morfogenéticos, esses circuitos podem ser herdados por toda a humanidade em poucas gerações.

Na sua visão, o que é a mente? Memórias, Sentimentos?
Goswami: 'Mente' é o nome que comumente as pessoas usam para o local onde se armazena nossas experiências internas. Memórias são mais do que o que é armazenado no cérebro. Existem componentes não locais disso que ajudam a explicar a reencarnação. E sentimento vem das nossas experiências de movimentos de energia vital. A nova Ciência distingue dois aspectos da mente. Um é a consciência, que é o grande terreno da existência onde matéria e mente existem. Dizemos que matéria é a experiência externa e a mente é a interna. Ao mesmo tempo, também reconhecemos que esse é o sentido geral do que seja a mente, mas também o específico do termo. Reconhecemos também que a mente mais amplamente pode ser classificada em três aspectos.
Um deles é como energia, chamado de energia vital. Depois vem o que podemos chamar de pequena mente, que é pensamento, sentido. E a terceira pode ser chamada de supramental porque é dada no contexto do pensamento, é a ideia de onde nossos valores vêm, de onde intuímos. Só acessamos a região supramental por meio da intuição, ou seja, temos uma intuição e fazemos a representação dela em pensamento. É melhor se fizermos essa distinção.

Como o Brasil e a sua cultura podem contribuir para o desenvolvimento do seu trabalho?
Goswami: Bastante. Em 1996, quando eu apresentei pela primeira vez meu trabalho para o público brasileiro, a resposta emocional realmente me tocou e soube que o País é importante para o meu trabalho. Estamos realmente indo adiante com o movimento do ativismo quântico no Brasil, que é um país único atualmente, muito parecido com a Índia de alguma maneira, porque as emoções ainda são valorizadas no Brasil. Um dos grandes problemas dos países ocidentais é de serem muito racionais.
Quando uma sociedade se torna muito racional ela não valoriza sentimento e também intuição. Não reconhecendo a emoção, não podemos lidar com as emoções negativas. Ninguém pode evitar emoções negativas porque são instintivas, nós as seguimos sem sabê-lo. Apesar da racionalidade do ocidente, a violência continua. Por quê? Somos guiados pelas emoções. A economia montada no ocidente, especialmente nos EUA, é um exemplo de como emoções negativas podem ser dispensáveis, como a ganância... Dessa maneira, fica claro que superestimar a racionalidade é um erro.

Um certo declínio dos valores ocidentais, reflexo da crise econômica de 2008, poderá fazer com que seu trabalho seja mais conhecido?
Goswami: Sim. As condições da crise estão só piorando até que nós mudemos nossa visão de mundo do materialismo científico para o idealismo monista. Repito, consciência é a base de todo ser humano.

Ainda sobre a crise econômica. A desorientação das finanças mundiais contribuiu para a mudança de modelos e padrões?
Goswami: Os modelos não foram trocados ainda, mas sim a consciência de que o capitalismo, como está estabelecido, próximo do modelo de filosofia do cientificismo materialista, não funciona, falhou. Esse capitalismo não é mais o original proposto por Adam Smith. Esse sistema é caracterizado por algumas ideias da Ciência materialista, como transformar a Economia em matemática. É uma péssima ideia, você nunca pode precisar o porquê da decisão de uma pessoa em comprar um produto. É completamente irracional fundamentar isso por meio da matemática. Esses são alguns erros que devem ser corrigidos. Eu já propus a Economia Espiritual, e gostaria de contribuir para solucionar o problema.

E como funcionaria essa nova modalidade de capitalismo?
Goswami: A ideia é simples. Há muito tempo eu reconheci que as necessidades dos seres humanos são mais do que materiais. Esse capitalismo atual foi estabelecido para satisfazer as necessidades materiais. Precisamos estender esse sistema para incluir como valores, necessidades mais elevadas, energia vital, necessidades de sentido mental, e até necessidades intuitivas. Quando fazemos isso estamos espiritualizando a Economia.

Tendo em vista as teorias defendidas por você, seria possível um Amit Goswami ter aparecido num país ocidental? Digo isso por causa da tradição espiritual do seu país de origem.
Goswami: Acredito que cedo ou tarde alguém descobriria a base espiritual da Ciência. As coisas estão mudando, o oriente está ficando mais materialista e o ocidente mais espiritual. O sempre acreditou em intuição. Espiritualidade aparece através da intuição, e sempre acreditamos [os orientais] na intuição, porque experiências intuitivas dão crédito aos experimentos. Nunca tivemos problemas com a espiritualidade. O ocidente, por outro lado, sempre foi cético em relação a esse tipo de experiência. O que satisfaz a mente ocidental é a possibilidade de provar uma teoria por meio de um experimento.
O ocidente foi cético sobre a espiritualidade até agora porque ela não pode ser certificada por meio de testes. Mas agora as teorias sobre Deus e espiritualidade são verificáveis e podem ser desenvolvidas tecnologias a partir dessa base.

Qual foi a sua maior dificuldade para dar o passo na direção do pensamento de caráter espiritual, já que você era materialista?
Goswami: Minha grande dificuldade foi abandonar a crença materialista de que a consciência é um fenômeno do cérebro.

Qual foi o motivo da sua mudança para uma abordagem mais espiritual?
Goswami: Minha visão de mundo foi totalmente invertida em um salto quântico de criatividade. Fui materialista por muito tempo. Estava dando uma conferência sobre Física Nuclear e não sentia que estava fazendo um bom trabalho, as outras apresentações eram melhores do que a minha, eu estava insatisfeito com o meu desempenho e sentia inveja da performance dos outros. Aquela energia foi esmagadora. Percebi que tinha uma desconexão entre o jeito em que eu vivia e o jeito que ganhava a vida. Eu quis reintegrar a minha vida. Fui procurar e descobri afortunadamente a nova metafísica para fazer Ciência.

O que você diria para um cético que, apesar de ter lido toda esta entrevista, não acredita nas suas teorias?
Goswami: Eu diria: "Por que você está escolhendo ser não científico? Quando há dados e teoria, não é mais discutível. É enfrentá-lo e aceitá-lo. Você só vai estar mais integrado e será mais feliz por causa disso".

*Marcelo Galli é jornalista e colabora com esta publicação.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Brilhe a Vossa Luz!!!