Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

FORMAS DE BEM-ESTAR E A RESPOSTA DE NOSSOS GENES

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Por Marco Callegaro, Portal Ciência & Vida.

A nova ciência da Psicologia Positiva tem ampliado seus estudos em diferentes domínios, incluindo pesquisas em Neurociências. Uma das questões fundamentais para a Psicologia Positiva é o avanço na compreensão científica da felicidade. O conceito de bem-estar subjetivo, atualmente, se desdobra em duas importantes vertentes. Os psicólogos positivos distinguem entre dois tipos essenciais de bem-estar subjetivo, a felicidade eudaimônica e a hedônica. Enquanto a felicidade hedônica se refere primariamente à somatória das experiências afetivas positivas vivenciadas por um indivíduo, a felicidade eudaimônica, um conceito originalmente formulado por Aristóteles, envolve um senso de propósito e direcionamento da vida para alcançar um potencial. A eudaimonia é um tipo de felicidade mais profunda, que resulta do esforço feito em direção a algo maior que tenha sentido para a pessoa, algo com nobreza na proposta e que ultrapasse a simples autogratificação.

Ambas dimensões da felicidade estão profundamente enraizadas na biologia e evolução do cérebro, com o bem-estar hedônico implicado na motivação de adaptações básicas fisiológicas e psicológicas, enquanto a eudaimonia está relacionada com a motivação de capacidades culturais e sociais mais complexas.

Como exemplos de eudaimonia, podemos citar os prazeres sociais de sentir-se conectado aos outros, os prazeres cognitivos relacionados a considerar novas ideias, ou prazeres espirituais como conectar-se com algo maior do que o próprio Self. Já o hedonismo envolve a procura de estímulos ou situações prazerosas. Um dos problemas do hedonismo como estratégia para buscar a felicidade é a chamada memória de habituação, que torna uma sensação prazerosa cada vez mais fraca a cada repetição do estímulo. Dessa forma, o hedonismo como via exclusiva para a felicidade tem a desvantagem de enjoar a pessoa dos prazeres que está vivenciando, sendo que cada vez é necessário um estímulo mais potente para produzir o mesmo nível de satisfação.

A BUSCA DE PRAZER DE FORMA HEDÔNICA ALTERA O PADRÃO DE EXPRESSÃO GENÉTICA DE MANEIRA SEMELHANTE AO ESTRESSE, ENQUANTO A FELICIDADE LIGADA AO SENTIDO, OU EUDAIMONIA, TURBINA O SISTEMA IMUNE

Uma investigação realizada pela psicóloga positiva Barbara Fredrickson procurou verificar o papel dos dois tipos de felicidade no código genético, com foco na expressão de componentes do sistema imunológico. A pergunta de pesquisa que os investigadores tentaram responder é se de fato existem diferenças entre a felicidade eudaimônica e hedônica na modulação do sistema imunológico. Para chegar à resposta, os pesquisadores analisaram os perfis de expressão genética basal de leucócitos, que são componentes do sistema imune, em 80 sujeitos adultos saudáveis. Os sujeitos foram avaliados tanto no grau de bem-estar hedônico como eudaimônico, e também em outros fatores biológicos e psicológicos que poderiam confundir o foco do estudo.

Os resultados mostraram que os dois tipos de felicidade têm perfis bem diferentes, e modulam o sistema imunológico em direções opostas. As células sanguíneas mononucleares periféricas de pessoas com altos níveis de bem-estar hedônico mostraram expressão de uma resposta transcricional à adversidade que envolve aumento da expressão de genes pró-inflamatórios e diminuição de expressão de genes envolvidos na síntese de anticorpos e outras respostas imunológicas. Em contraste, altos níveis de bem-estar eudaimônico foram associados a um padrão oposto, onde diminui a expressão genética pró-inflamatória e aumenta a expressão de genes relacionados à síntese de anticorpos.

Segundo os resultados do estudo, existe um contraste agudo entre a resposta dos genes à felicidade apenas prazerosa e aquela ligada ao significado. A felicidade hedônica parece acionar uma resposta dos genes ligada à promoção de doenças e estresse crônico. A eudaimonia aciona os genes de outra forma, melhorando as defesas imunológicas e contribuindo para a saúde e resiliência do organismo. Isso implica em uma direção importante para nossos esforços rumo à felicidade, pois parece existir um efeito mais favorável a saúde na busca de sentido na vida do que na entrega aos prazeres somente. A sociedade está estruturada em função do consumo e oferece as mais variadas formas de estímulos prazerosos, em uma espiral crescente de hedonismo e busca de gratificação pessoal. No entanto, a procura de significado em nossas vidas, e cultivo de valores mais amplos, que considerem o bem-estar dos outros, pode ser um caminho mais produtivo e saudável.

Para saber mais:
Fredrickson, B. L. et al. A functional genomic perspective on human well-being, PNAS - Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 110, n. 33, p. 13684-13689, July 29, 2013.

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