Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

CONFIA E SERVE


Ainda quando te encontres caído sob o peso de grandes provações, levanta-te e caminha para a frente, cumprindo os teus deveres com fidelidade.

Ainda mesmo que te sintas sozinho nas lutas de cada dia, não desertes do campo de batalha em que a vida te situa, atendendo às tuas necessidades evolutivas.

Ainda quando te percebas à beira do fracasso, semelhante a abismo que se escancare aos teus pés, não te creias sem forças para continuar, porquanto a Misericórdia        
Divina a ninguém desampara.

Ainda mesmo te vejas mergulhado em tristeza, qual se a própria existência carecesse de sentido aos teus olhos, deixa que a esperança prossiga te embalando os sonhos de felicidade.

Ainda quando te observes incompreendido pelos afetos mais queridos da alma, silencia e espera, aprendendo a renunciar
agora para conquistar depois.

Ainda mesmo te consideres perdido no estranho labirinto dos problemas engendrados pela tua invigilância, não te entregues ao desespero, pedindo aos Céus que te auxiliem
a solucioná-los com dignidade.

Haja o que houver e estejas como estiveres, não te precipites em tuas decisões, de vez que é nas horas mais difíceis que tens oportunidade de provar a ti mesmo o valor da própria fé.

CONFIA E SERVE!

Irmão José [Espírito], através de Francisco Cândido Xavier 


INVERSÃO DE VALORES NO NATAL


Durante o solstício de inverno na Roma pagã, período que abrange os dias 1  a 23 de dezembro, celebravam-se as Saturnais, também denominadas como as “festas dos escravos”, em razão de ser-lhes concedidas oportunidades de prazeres, aumento da quota de alimentos, diminuição dos trabalhos a que se encontravam submetidos especialmente nos campos.

Homenageando-se o deus Saturno, os participantes entregavam-se aos mais diversos abusos, especialmente na área da sensualidade, da falta de compromissos morais, assemelhando- se às bacanais...

Quando o Cristianismo primitivo passou a dominar as mentes e os corações do Império, aqueles afeiçoados a Jesus, desejando apagar a nódoa moral que vinha do paganismo e permanecia atormentando a cultura vigente, transferiram a data do Seu nascimento para aquele período, aproximadamente, destacando-se o dia 25 para as celebrações festivas.

Havendo nascido o Mestre de Nazaré entre 6 e 8 de abril, segundo os mais precisos cálculos dos estudiosos do Cristianismo contemporâneo, o alto significado da ocorrência, pensavam então, teria força suficiente para apagar as lembranças dos abusos praticados até aquela ocasião.

O ser humano, nada obstante, mais facilmente vinculado às paixões primitivas, lentamente foi transformando a data evocativa da estrebaria de palha que se transformou numa constelação de estrelas, a fim de dar expansão aos sentimentos desequilibrados, assim atendendo às necessidades das fugas psicológicas, em culto externo de fantasia e de prazer.

Posteriormente, São Francisco de Assis, símile de Jesus pelo seu inefável amor e entrega total da vida, desejou recompor a ocorrência natalina, e realizou o seu primeiro presépio, a fim de que o mundanismo não destruísse a simpleza da ocorrência, apresentando o evento sublime na forma ingênua das suas emoções.

Durante alguns séculos preservou- se a evocação do berço dentro das modestas concepções do Cantor de Deus.

À medida que a cultura espraiou- se e as modernas técnicas de comunicação ampliaram os horizontes das informações, as doutrinas de mercado, assinaladas pelas ambições de compras e vendas, de extravagâncias e de presentes, de sedução pelo exterior em detrimento do significado interno dos valores, propôs novos paradigmas para as comemorações do Natal.

Na atualidade aturdida dos sentimentos, a figura de Jesus lentamente desaparece da paisagem do Seu nascimento, substituída pelo simpático e gorducho velhinho do norte europeu, Papai Noel, e o seu trenó entulhado de brinquedos para as crianças e os adultos que se entregam totalmente à alucinação festiva, distante da mensagem real do Nascimento.

Atualizando-se no Ocidente e, praticamente no mundo todo, as doces lendas sobre São Nicolau, eis que também a árvore colorida vem substituindo o presépio humilde nascido na Úmbria, e outro tipo de saturnália toma conta da sociedade, agora denominada cristã...

Matança de animais, excesso de bebidas alcóolicas, festas exageradas, extravagâncias de todo porte, troca de presentes, abuso de promessas e ânsia de prazeres tomam lugar nas evocações anuais, com um quase total esquecimento do Aniversariante.

A preocupação com a aparência, os jogos dominantes dos relacionamentos sociais e o exibicionismo em torno dos valores externos aturdem os indivíduos que se atiram à luxúria e ao desperdício, tendo como pretexto Jesus, de maneira idêntica ao culto oferecido a Saturno.

Propositalmente, os adversários da ética moral proposta pelo Mestre procuram apagar a Sua lembrança nas mentes e nos corações, em tentativas covardes e contínuas de O transformar em mais um mito que se perde na escura noite do inconsciente coletivo da Humanidade.

Distraídos em torno da ocorrência perversa, pastores e guias do rebanho confundido deixam-se, também, arrastar pela corrente da banalidade, engrossando as fileiras dos celebradores do prazer e da anarquia.

É certo que Jesus não necessita de que se Lhe celebrem as datas de nascimento nem de morte, mas deseja que se vivam as lições de que se fez o Mensageiro por excelência, propondo novos conceitos e comportamentos em torno da felicidade e da responsabilidade existencial, tendo em vista a imortalidade na qual todos nos encontramos mergulhados.

Nada obstante, é de causar preocupação o desvio, a inversão de valores que se observam nas evocações festivas e na conduta dos celebradores,muito mais preocupados com o gozo e o despautério do que com os conteúdos memoráveis dos ensinamentos por Ele preconizados e vividos.

Por compreender as fraquezas morais do ser humano, Jesus entendia, desde então, tais ocorrências que hoje acontecem, as adulterações que se produziram nos Seus ensinamentos, e diante da indiferença que tomaria conta daqueles que O deveriam testemunhar, foi peremptório ao afirmar: 
– Quando eles [os seus discípulos] se calarem as pedras falarão. [Lucas, 19:40.]

Concretizou-se o Seu enunciado profético, porque, nestes dias tumultuosos, nos quais não se dispõe de tempo, senão para alguns deveres de trabalho que proporcione compensações imediatas, o silêncio das sepulturas quebrou-se e as vozes da imortalidade em grande concerto vêm proclamar e restaurar a mensagem de vida imperecível, despertando os adormecidos para a lucidez e a atualização da conduta nos padrões elevados do Bem.

Não mais os intérpretes que adaptam os ensinamentos às suas próprias necessidades, distantes do compromisso com a Verdade; que se deixam dominar por excessos de zelos desnecessários, transferindo os seus conflitos para os comportamentos que os demais devem vivenciar; que se refugiam nos arraiais da fé, não por sentimentos elevados, mas procurando ocultar os conflitos nos quais estertoram...

As vozes dos Céus, destituídas dos ornamentos materiais e das falsas necessidades do convívio social, instauram a Nova Era, trabalhando pelo ressurgimento das lições inconfundíveis do Amor, conforme Ele as enunciou e as viveu até o holocausto final...

O Seu Natal é um momento de reflexão, convidando as criaturas humanas a considerarem a Sua renúncia, deixando, por momentos, o sólio do Altíssimo para percorrer os caminhos ásperos da sociedade daquele tempo, amando infatigavelmente e ensinando com paciência incomum, de modo a instalar na rocha dos corações os alicerces do Reino de Deus que nunca serão demolidos.

Assim sendo, embora a inversão de valores em torno de Jesus e de Sua doutrina, que se observa nas leiras do Cristianismo nas suas mais variadas denominações, nenhuma força provinda da insensatez conseguirá diminuir a intensidade de que se revestem, por serem os caminhos únicos e de segurança para que a criatura, individualmente, e a sociedade, em conjunto, alcancem a plenitude a que aspiram mesmo sem o saber.

Vianna de Carvalho (espírito).
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã do dia 17 de novembro de 2008, na cidade do Porto, Portugal.)

CELEBRAÇÃO DO NATAL


A prepotência da força gerara a arbitrariedade do poder. O mundo era, então, um espólio fácil nas garras dos insaciáveis esbulhadores.

Homens, mulheres e crianças facilmente transitavam de mão em mão sob a canga de vil cativeiro, cujas rédeas eram conduzidas pela impiedade triunfante no carro da guerra...

A ostentação e a miséria, a opulência e a sordidez, a exuberância do desperdício e a escassez de recursos constituíam contrastes aparvalhantes naqueles dias...

Dominadores de uma hora tombavam, logo depois, desfilando como hilotas ou sucumbiam asfixiados nos rios de sangue em que se compraziam...

Intrigas na política de César, desídias nas hostes poderosas, desmandos criminosos e conciliábulos argentários confraternizavam disfarçados com as tricas religiosas, as disputas pela primazia e as ambições desmedidas, fazendo que a alma dos povos sofresse o jugo do pulso férreo dos títeres do mundo e a mão veludosa, porém, traiçoeira, dos mandatários da fé.

A felicidade se consubstanciava na fortuna enganosa de um dia, no sorriso de um momento, logo convertidos em miséria de largo período e esgar de contínua contração facial.

Nenhuma fanfarra apregoadora. Festividade alguma entoando alvíssaras.
Nem palácio, nem berço de ouro.

Anunciado por profetas e anjos, Ele era esperado como o Justiçador.

Os que O aguardavam transferiam para Ele os métodos da violência e da subjugação com que esperavam submeter os outros homens, vencendo os povos e os humilhando vergonhosamente.

...Ele, todavia, elegeu o altar de uma lapa e o império imensurável da Natureza para apresentar-se aos homens.

Somente alguns poucos ouviram a melodia angélica e perceberam o lucilar da estrela indicadora, saudando o Seu advento e a Sua jornada.

Sua vida, no entanto, modificou a estrutura moral e espiritual da Humanidade desde então.

Esperança dos infelizes, fez-se porto de segurança dos desesperados. A partir daquele momento, em quaisquer conjunturas, Jesus é o alfa e o ômega das criaturas terrenas, apontando as direções seguras para a paz e a felicidade.

* * *

De certo modo, ante a semelhança destes tempos com aqueles dias, não te distraias nas exterioridades frívolas com que recordam o nascimento do Senhor.

Esparze em derredor a luz da alegria, o bálsamo do consolo e o pão da bondade, celebrando o Natal com as mãos da caridade e os tesouros do amor, de modo a transformares o coração num altar e a alma na sede do Seu reino, donde Ele possa novamente apresentar-se, por teu intermédio, aos desditosos, reconstruindo a vida sob a excelsa sinfonia dos anjos a repetirem:

Glória a Deus nas alturas; paz aos homens de boa vontade!


Joanna de Ângelis (espírito), psicografia de Divaldo Franco

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

EVITA CONTENDER


"Ao servo do Senhor não convém contender. - Paulo
(II Timóteo, 2:24)

Foge aos que buscam demanda no serviço do Senhor.

Não  estão  eles  à  procura  de  claridade  divina  para  o coração. Apenas disputam  louvor  e  destaque  no  terreno  das considerações  passageiras. Analisando  as  letras  sagradas,  não atraem  recursos  necessários  à  própria iluminação  e,  sim,  os meios  de  se  evidenciarem  no  personalismo  inferior. Combatem os semelhantes que lhes não adotam a cartilha particular, atiram-se contra  os  serviços  que  lhes  não  guardam  o  controle  direto, não  colaboram senão do vértice para a base, não enxergam vantagens senão nas tarefas de que eles mesmos se incumbem. Estimam as longas discussões a propósito da colocação  de  uma vírgula  e  perdem  dias  imensos  para descobrir  as contradições aparentes dos escritores consagrados ao ideal de Jesus. Jamais dispõem de tempo para os serviços da humildade cristã, interessados que se acham  na  evidência  pessoal.  Encontram sempre  grande estranheza  na conjugação dos verbos ajudar, perdoar e servir. Fixam-se, invariavelmente, na zona imperfeita da humanidade e trazem azorragues nas mãos pelo mau gosto de vergastar.  Contendem  acerca  de  todas  as  particularidades  da edificação evangélica e, quando surgem perspectivas de acordo construtivo, criam novos motivos de perturbação. 

Os  que  se  incorporam  ao  Evangelho  Salvador,  por  espírito  de contenda, são dos maiores e dos mais sutis adversários do Reino de Deus. 

É  indispensável  a  vigilância  do  aprendiz,  a  fim  de  que  se  não perca  no desvario das palavras contundentes e inúteis.

Não estamos convocados a querelar e, sim, a servir  e a aprender com o Mestre; nem fomos chamados à entronização do “eu”,  mas, sim, a cumprir os desígnios superiores na construção do Reino Divino em nós.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, no livro Pão Nosso, 
capítulo 98, páginas 209 e 210.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O NATAL DO APÓSTOLO


Quando Simão Pedro foi arrancado aos grilhões do cárcere para o derradeiro sacrifício, sentia o coração varado de angústia, conquanto mostrasse o passo firme.

O velho apóstolo, que transpusera os oitenta de idade, levantava a cabeça branca, destacando-se na turba à maneira de um pai atormentado por filhos inconscientes.

Irmãos do Evangelhos ladeavam-no, tristes, escondendo o próprio desespero, diante da serenidade com que ele, encanecido em duras experiências, acomodava ao martírio.

Mulheres e crianças emaranhavam-se, cortejo a dentro, para beijar-lhe as mãos. Transeuntes, ainda mesmo adversos ao Cristianismo nascente, fitavam-no, respeitosos, qual se vissem um soberano humilhado e pobremente vestido, a caminho de inesperado triunfo... E até soldados da escolta, recordando vários companheiros que Simão transfigurara, ao curar-lhes os parentes enfermos, abeiravam-se dele com veneração e carinho...

Apenas um dos pretorianos, Sertório Aniceto, destacado elemento na expedição, não poupava o sarcasmo.

Desejando quebrar a atmosfera de reverência e de êxtase que se fazia, desdobrava impropérios:

- Para diante, velho impudente! Judeu sujo! Lixo humano, que envergonharia os postes da arena!...

E mais à frente:

-Não abuse da crendice do povo! Ladrão imundo, chegou seu fim!...

Pedro, entretanto, contemplava o céu escaldante da tarde e orava em silêncio...

Sentia-se, agora, fatigado e incapaz! Compreendia que a Boa Nova exigia servidores robustos e rogava ao Cristo enviasse obreiros novos e valorosos para a vinha do mundo... Mas não era só isso... No imo do coração, ardia-lhe a saudade do Mestre e ansiava retomar-lhe a companhia para sempre...

Escalando a colina, via não longe o Campo de Marte, assinalado pelo monumento de Augusto, as cintilações do Tibre espreguiçando ao sol, o casario imenso, as termas e os jardins; no entanto, regressava pela imaginação à Galileia distante, buscando Jesus em pensamento...

Revia o lago de Genesaré, em seus dias mais belos, e as multidões simples e generosas com que o Senhor repartia o pão e a verdade, o consolo e a esperança...

Por estranhos mecanismos da memória, respirava, de novo, o perfume das rosas de Betsaida, das romãzeiras de Magdala e dos pequenos vinhedos de Cafarnaum...

Apesar do calor reinante, rememorava a pesca e supunha-se envolvido pelo sopro da brisa, quando a barca sobrestava as ondas calmas.

Reconstituía, enlevado as pregações do Divino Amigo e parecia-lhe jornadear de retorno à família das crianças e dos enfermos, das mães sofredoras e dos velhinhos que ele próprio lhe entregara ao coração...

Atingido o local do suplício, confiou-se automaticamente aos soldados que o desnudaram, e, como se estivesse hipnotizado pela ideia do reencontro, sofregamente aguardado, quase nada percebeu dos martelos, rudemente manobrados, que lhe apresavam pés e mãos ao lenho que se lhe erguia de improviso...

Em derredor, escutava os protestos velados das centenas de espectadores da lamentável exibição, de mistura, de mistura com as preces dos companheiros agoniados... Detido, porém, na ânsia do repouso, Pedro não via que o tempo se escoava, sem que lhe desfechassem qualquer golpe...

Aqui e além, grupos em oração e lágrimas salientavam-se de mãos postas; contudo, a morte tardava... Aniceto, entretanto, não o perdia de vista, e, reparando que o crepúsculo baixava, atirou-lhe pontiagudo calhau à cabeça e gritou:

-Morre, bruxo!

O apóstolo observou que o sangue esguichava, mas, sem qualquer reação, rendeu-se a invencível torpor, qual se fosse repentinamente anestesiado por brando sono.

Semelhante impressão, contudo, perdurou por momentos. O ancião, após desalgemar-se do corpo, identificou-se espiritualmente, livre e eufórico, ao pé dos próprios despojos, e, alheio à algazarra em torno, contemplou o firmamento, onde os astros se inflamavam, como se dedos invisíveis acendessem lumes deslumbrantes para uma festa no céu...

Espantado, observou que um homem descia do alto, como que materializado pela fulguração das estrelas, e, decorridos alguns instantes de assombro, viu Jesus a dois passos, a endereçar-lhe o inolvidável sorriso.

- Mestre! - exclamou, inclinando-se para beijar o chão que ele pisava. O Messias redivivo tomou-os nos braços e partiu, aconchegando-o ao coração, qual se transportasse frágil criança.

Por várias semanas restaurou-se Pedro na estância de luz que o Cristo lhe reservara.

Junto dele, visitou paragens de inexprimível beleza, recolheu lições preciosas, presenciou espetáculos soberbos da grandeza cósmica e abraçou afeições inesquecíveis...

Quando mais integrado se reconhecia no Plano Superior, eis que o Celeste Companheiro lhe anuncia nova separação. Que o discípulo descansasse quanto quisesse, elevando-se às excelsas regiões... Ele, porém, devia ausentar-se...

-Senhor, aonde vais? - indagou o apóstolo, penosamente surpreendido.

E Jesus, indicando-lhe escuro recanto da vastidão, em que se adivinhava a residência planetária dos homens, informou sereno:

-Pedro, enquanto houver um gemido na Terra, não me será lícito repousar...

-Então, Senhor, eu também...

E, como outrora, demandaram juntos, atravessaram Roma, parando, por fim, em espaçoso cemitério da Via Ápia, mergulhado na sombra noturna...

A multidão cantava, glorificando o Senhor...

Não obstante o Natal estivesse na lembrança de poucos, rememorava-se, ali, diante da imensidão constelada, a melodia dos mensageiros angélicos.

Simão, fremindo de emotividade, começou a chorar de alegria. Anelava ser bom, aspirava a ser irmão da Humanidade, queria auxiliar a construção do Reino de Deus e homenagear a manjedoura de Belém, ofertando algo de si mesmo, em louvor do Evangelho...

Nesse ínterim, aproximou-se Jesus e disse-lhe ao ouvido:

-Pedro, alguém te chama...

O apóstolo voltou-se e, admirado, enxergou na pequena comunidade um homem triste, carregando nos braços um pequenino agonizante... Era Aniceto, a rogar-lhe, mentalmente, se lhe compadecesse do filhinho que a febre devorava. Qual se lhe registrasse a presença, expunha-lhe os remorsos que amargava e pedia-lhe perdão...

O antigo pescador não hesitou. Depois de oscular-lhe a fronte suarenta, afagou a criança atribulada, impondo-lhe as mãos, e, ali mesmo, magneticamente tocado por forças renovadoras e intangíveis, o menino despertou, lúcido e refeito, enlaçando-se ao pai, à feição da ave assustada que torna à segurança do ninho.

Aniceto, no íntimo, compreendeu o socorro e a bênção que recebia e, renovado, começou a cantar em lágrimas de júbilo: "Glória a Deus nas alturas, paz na Terra e boa vontade para com os homens!..."

Para o rude legionário de César começava nova vida e para Simão Pedro o serviço continuou...

(Pelo espírito Irmão X, psicografado por Francisco Cândido Xavier, publicado em Antologia Mediúnica do Natal)

EVANGELHO


Entre a Manjedoura e o Calvário, guarda-se a lição eterna do Cristo. Na primeira, ergue-se a humildade, clarificando o caminho dos homens; no segundo, erguem-se a esperança e a resignação na Providência Divina.

Nesses dois capítulos, imensos pela sua expressão simbólica, encerra-se todo o monumento de filosofias do Cristianismo.

Vinte séculos decorreram. Os primeiros mártires da fé edificaram as bases da doutrina do Crucificado sobre a face do mundo.

Uma luz poderosa irradiava-se da cruz, iluminando as estradas da evolução em todo o Planeta.

Todos os deuses do politeísmo romano desapareceram dentro do novo conhecimento da verdade. A poesia grega, que ainda era a fonte essencial da inspiração do mundo, teve as suas bases regeneradas pela doce lição da Divina Vítima.

Mas, a ambição de domínio sobrepõe-se ao sacrifício e ao martírio. O imperialismo romano não tardou a se manifestar, travestido nas mitras episcopais e a grande lição do Calvário foi esquecida, no abismo das exterioridades religiosas. 

A má-fé e o embuste rodearam o Evangelho, enegrecendo-lhe as páginas, e a figura luminosa do Cristo foi adaptado por todas as filosofias, por todas as escolas e interesses particulares. 

O Evangelho serviu de instrumento para lutas e morticínios.

Os homens, tocados de egoísmo e ambição, procuraram torcer-lhe os ensinos, como se estes se constituíssem de textos de leis humanas e falíveis. 

Raros corações entenderam o “amai-vos” da lição imorredoura do Sublime Enviado. E o resultado da grande incompreensão é presentemente vivido pela vossa época de supremas angústias.

Será, talvez, ocioso a vós outro nossa insistência no exame da civilização em curso, falha de valores espirituais. Acresce notar, porém, que o nosso esforço deve caracterizar-se pelo trabalho de encaminhar a luz divina ao vosso entendimento. 

O mundo, na atualidade, experimenta transições angustiosas e rudes. Para a culminância da luta deste crepúsculo de civilização, as corridas armamentistas, no Planeta, custa às nações fabulosas fortunas por dia, ignorando-se, na estatística exata, os elementos despendidos na educação do povo e na assistência às massas.

No entanto, os políticos, os falsos sacerdotes e todos os cientistas da Terra, enganam-se em suas ingratas cogitações. A direção do orbe pertence a Jesus, cuja mão divina permanece no leme, apesar da escuridão da noite e não obstante a força destruidora da procela.

Os grandes gênios da Espiritualidade Superior reúnem-se no Infinito, examinando o curso dos destinos humanos, e, enquanto lembra, em vossa assembléia humilde, o vulto luminoso da cruz, prepara-se no ilimitado um novo dia para o conhecimento terrestre.

O Cristianismo marcou uma era diferente e os séculos futuros viverão à claridade de uma outra luz que, em breve, raiará nos horizontes da Terra, para o coração aflito e sofredor da Humanidade.

Emmanuel (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, no livro: Antologia Mediúnica do Natal ou Coletâneas do Além.

JESUS


Divino Senhor - fez-se humilde servo da humanidade.

Pastor Supremo - nasceu na manjedoura singela.

Ungido da Providência - preferiu chegar ao planeta, no espesso manto da noite, para que o mundo lhe não visse a corte celestial.

Orientador nas Esferas Resplandecentes - rejubilou-se na casinha rústica de Nazaré.

Construtor do Orbe Terrestre - manejou serrotes anônimos de uma carpintaria desconhecida.

Prometido dos Profetas - escolheu a simplicidade para instituir o Reino de Deus.

Enviado às Nações - preferiu conversar com os doutores na condição de criança.

Luzeiro das Almas - consagrou longos anos à preparação e à meditação, a fim de ensinar às criaturas o caminho da redenção.

Verbo Sagrado do Princípio - submeteu-se à limitação da palavra humana para iluminar o mundo.

Sábio dos sábios - valeu-se de pescadores pobres e simples para transmitir aos homens a divina mensagem.

Mestre dos mestres - utilizou-se da cátedra da natureza, entre árvores acolhedoras e barcos rudes, disseminando as primeiras lições do Evangelho Renovador.

Majestade Celeste - conviveu com infelizes e desalentados da sorte.

Príncipe do Bem - não desdenhou as vítimas do mal, amparando mulheres desventuradas e sentando-se à mesa de pecadores envilecidos.

Instrutor de Entidades Angélicas - andou com a multidão de leprosos, estropiados e cegos de todos os matizes.

Administrador da Terra - ensinou o respeito a César, consagrando a ordem e santificação à hierarquia.

Benfeitor das Criaturas - recebeu a calúnia, o ridículo, a ironia, o desprezo público, a prisão dolorosa e o inquérito descabido.

Amigo Fiel - viu-se sozinho, no extremo testemunho.

Juiz Incorruptível - não reclamou contra os falsos julgamentos de sua obra.

Advogado do Mundo - acolheu a cruz injuriosa.

Ministro Divino da Palavra - adotou o silêncio, ante a ignorância de seus perseguidores.

Dono do Poder - rogou perdão para os próprios algozes.

Médico Sublime - suportou chagas sanguinolentas.

Jardineiro de Flores Eternas - foi coroado de espinhos cruéis.

Companheiro Generoso - recebeu açoites e bofetadas.

Condutor da Vida - aceitou o crucifixo entre ladrões.

Emissário do Pai - manteve-se fiel a Deus até o fim.

Mensageiro da Luz Imortal - escolheu o coração amoroso e renovado de Madalena para espalhar na Terra as primeiras alegrias da ressurreição.

Mordomo dos Bens Eternos - em precisando de alguém, para colaborar com os seus seguidores sinceros, busca Saulo de Tarso, o perseguidor, transformando-o no amigo incondicional.

Coordenador da Evolução Terrestre - necessitando de trabalhadores para as missões especializadas, procura os Ananias da fé, os Estêvãos do trabalho, os Barnabés anônimos da cooperação.

Missionário Infatigável da Redenção Humana - foi sempre e ainda é o maior servidor dos homens de todos os tempos e civilizações da Terra.

Recordando o Mestre Divino, convertamo-nos ao seu Evangelho de Amor, para que a sua luz nasça na manjedoura de nossos corações pobres e humildes! E, edificados no seu exemplo, abracemos a cruz de nossos preciosos testemunhos, marchando ao encontro do Senhor, no iluminado País da Ressurreição Eterna. 


André Luiz (Espírito) através de Francisco Cândido Xavier, no livro: Coletânea do Além.