Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

quinta-feira, 27 de março de 2014

ESTIVE PENSANDO: AMAR AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO

Dentre as obras basilares da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, encontra-se o Evangelho Segundo o Espiritismo. Ainda no frontispício da obra acha-se grafado um aforismo que encerra a maneira como a fé deve ser vivenciada pelos adeptos do Espiritismo: “Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade”. Dentro desse raciocínio cumpre-nos entender que os assuntos relacionados à fé devem acontecer não no campo da crença por aceitação, mas da crença por entendimento, valendo-se dos diversos campos do conhecimento disponíveis em nosso momento atual da existência.

Segundo entendimento de Kardec, os Evangelhos de Jesus (escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João) podem se dividir em 05 partes:
1 – Os atos comuns da vida do Cristo;
2 – Os milagres;
3 – As profecias;
4 – As palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja;
5 – O ensinamento moral.

Prosseguindo na introdução ao livro, Kardec destaca que “Para os homens em particular, é uma regra de conduta, abrangendo todas as circunstâncias da vida, privada ou pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas sobre a mais rigorosa justiça; é, enfim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade esperada, um canto do véu levantado sobre a vida futura”. Apesar das modificações, interpretações, e demais incertezas que cercam os evangelhos e demais escritos ditos sagrados, não é a palavra em si que nos interessa, apesar de a mesma ser importantíssima, mas o sentido por trás dela, o que lhe dá vida é que nos garante o entendimento.

Em sendo assim, Kardec organizou o Evangelho Segundo o Espiritismo em temas e buscou associar a esses temas, sempre morais, as passagens evangélicas que  serviram de fundo para estudos e comentários tanto de Kardec quanto de Espíritos diversos espalhados por todo o canto e se manifestando dentro das mesmas sintonias, conferindo a obra um viés universalista que incluem a todos, independente de como estejam física e moralmente.

Nessas divisões coube ao capítulo XI abrigar uma reflexão e ensinamento intitulado, AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO, subdivididos em seções conforme se segue:

·        O maior mandamento;
·        Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem;
·        Parábola dos credores e dos devedores;
·        Daí a César o que é de César;
·        Instruções dos Espíritos: A lei de amor – O Egoísmo – A fé e a caridade – Caridade para com os criminosos – Deve-se expor a própria vida por um malfeitor?
Vamos a partir de agora destacar o que nos chama mais atenção nesse momento de nossa evolução espiritual.

O maior mandamento - Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem – Parábola dos credores e dos devedores

Alicerçado sobre as passagens contidas em Mateus (22, 34-40), Mateus (7,12), Lucas (6, 31) e Mateus (18, 23 a 35) Kardec nos apresenta os momentos em que questionado pelos doutores da lei, Jesus reforça que o mandamento maior a que os Judeus estavam subordinados (de um total de 613 conforme o Levítico) o amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo sintetizaria toda a Lei e os ensinamentos dos profetas. Aqui Jesus deixa-nos claro que mais do que saber das coisas, devemos procurar o sabor que elas têm. Se entendermos o sabor das coisas, das palavras, das ações e suas conseqüências, podemos evitar que nos sejam necessários outros ensinamentos, nos libertando de amarras e de compromissos com a Lei de Causa e Efeito. Destaca Kardec: “Amar o próximo como a si mesmo: fazer para os outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós é a mais completa expressão da caridade, porque resume todos os deveres para com o próximo. Não se pode ter guia mais seguro, a esse respeito, que tomando por medida, do que se deve fazer para os outros, o que se deseja para si”. Essa é a regra áurea presente em todas as manifestações espiritualistas da humanidade seja em religiões constituídas sejam em filosofias. A diferença para o Cristão em relação a este entendimento é que a regra áurea antes de ser um fim em si mesma, é uma condição da ascensão evolucional, exemplifica pelo Mestre Jesus. Ele não apenas nos apontou um caminho, como trilhou por ele. Ao apresentar a parábola dos credores e dos devedores Jesus nos ensina que muitas vezes nos apegamos à Misericórdia e Indulgência de  Deus e dos Homens em relação aos nossas dificuldades e problemas, mas nos valemos da Justiça a qualquer preço quando nos são solicitados a mesma Misericórdia e a mesma Indulgência. Se esperamos amor, que passemos a amar, se esperamos perdão, que passemos a amar, até porque só entendemos o que nos é dado quando passamos a dar o mesmo também.

Daí a César o que é de César

Valendo-se de passagens contidas nos Evangelhos de Mateus (22, 15-22) e Marcos (12, 13-17) Kardec nos traz para reflexão o momento em que questionado sobre o pagamento de impostos, que os Judeus deviam fazer aos Romanos, Jesus responde com uma frase que ficou de todos muito conhecida: “Daí a César o que é de César”. Durante muito tempo e até hoje muitos se valem dessa assertiva para justificarem possíveis ações materiais em detrimento à ações espirituais e muitas ações espirituais em detrimento de ações materiais, dualizando a existência, com se fôssemos um ser de duas faces e a ação de uma face justifica a ação ou a não-ação da outra. Vejamos o que destaca Kardec: “Esta máxima – Daí a César o que é de César – não deve ser entendida de uma forma restritiva e absoluta. Como todos os ensinamentos de Jesus, é um princípio geral resumido sob uma forma prática e usual, e deduzida de uma circunstância particular”. Podemos entender a partir de Kardec que se faz necessário ampliar os horizontes para entendimento melhor desse assunto, nos valendo de outros princípios que nos permitem auxiliar aos que necessitam sem para isso nos valermos de citações de que tem o que merecem. Merecimento é entendimento superior e só Deus e Espíritos que comungam com ele em plenitude, Jesus por exemplo, são capazes de perceber intimamente. Ainda podemos trazer a reflexão que separarmos nossas ações no plano material daquilo que fazemos no plano espiritual é uma condição de imaturidade evolutiva. Somos um, sempre, onde quer que estejamos devemos nos valer de nossa condição de Espíritos, e a prática da caridade é uma boa sugestão para afirmação íntima dessa condição.

A lei de Amor

Kardec seleciona três textos para tratar desse assunto e que retratam o pensamento de espíritos que se apresentam como Lázaro, Fénelon e Sansão. Para Lázaro “o amor resume inteiramente a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu início, o homem não tem senão instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos, e o ponto delicado do sentimento é o amor, que condensa e reúne em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas”, e acrescenta ao final do texto “(...) compreendendo a lei de amor que une todos os seres, nela encontrareis as suaves alegrias da alma, que são o prelúdio das alegrias celestes”. O texto de Fénelon traz que “o amor é de essência divina, e, desde o primeiro até o último, possuis no fundo do coração a chama desse fogo sagrado”, acrescenta que ele “se desenvolve e engrandece com a moralidade e a inteligência, e, ainda que comprimido pelo egoísmo, é a fonte de santas e doces virtudes que fazem as afeições sinceras e duráveis e vos ajudam a transpor a rota escarpada e árida da existência humana”, reforça que “para praticar a lei de amor, tal como Deus a entende, é preciso que chegueis, progressivamente, a amar a todos os vossos irmãos, indistintamente”, e conclui mostrando que “a terra, morada de prova e de exílio, será então purificada por esse fogo sagrado, e verá praticar a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação, o sacrifício, virtudes todas filhas do amor”. Já Sansão nos brinda em seu texto com o ensinamento de que “amar, no sentido profundo da palavra, é ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que se quereria para si mesmo; é procurar ao redor de si o sentido íntimo de todas as dores que oprimem vossos irmãos para abrandá-las”, e acrescenta ao final : “grande pensamento de renovação pelo Espiritismo, tão bem descrito em O Livro dos Espíritos tu produzirás o grande milagre do século futuro, o da reunião de todos os interesses materiais e espirituais dos homens, pela aplicação desta máxima bem compreendida – Amai bastante, a fim de serdes amados”.  Podemos verificar de maneira clara e inequívoca que a pratica do Amor é a maneira que o Pai encontrou para nos mantermos ligados a ele. Deus é amor, e se somos filhos do amor, somos também amor, mas em estado latente. Desvirtuamos muitas vezes esse sentimento, por causa de nosso processo evolutivo. Não herdamos o amor, nós o conquistamos. E para essa conquista nos é necessário os estágios mais diversos de modo que no final, onde quer que estejamos, fazendo o que quer que estejamos fazendo, o amor seja de tal forma em nosso Espírito, que não nos será mais possível dele nos apartar. Como nos lembra Paulo em sua carta aos Coríntios, entre a fé, a esperança e o amor, o maior deles é o amor, pois quando estivermos face a face com o Pai, ou seja quando estivermos agindo 100% conforme sua vontade, a fé não nos será mais necessária, a esperança nos será desnecessária, mas o Amor, esse será sempre o elo que unirá a todos no desejo comum de bem estar, de bem viver, de plenitude com o Criador. Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, no livro: Jesus e o Evangelho – À luz da psicologia profunda, comentando sobre esse item, no capítulo intitulado, Libertação Pelo Amor, nos assevera que “na perspectiva da psicologia profunda o ser vive para amar e ser amado, iluminar a sombra e fazer prevalecer o Self”, ou seja a vida se realiza na proporção que nos libertamos das transitoriedades das sombras (eu egóico) e nos concentramos nas permanências do Self (eu profundo ou divino). Continua a mentora a nos instruir que o amor é “terapia eficiente para superação da sombra, medicamento salutar par o ego enfermo, estímulo eficiente para o Self que desabrocha soberano quando irrigado pelo fluxo desse sentimento superior da vida”. Trás ela também sua conceituação de amor, nos revelando que “amar é abrir o coração sem reservas, encontrar-se desarmado de sentimentos de oposição, sempre favorável ao bem e ao progresso mesmo quando discordando das colocações que são apresentadas”. Traçando comentários sobre a trajetória terrena de Jesus e sua atuação perante aos próximos necessitados de atenção, afeto, entendimento, acolhimento e amor, ela nos mostra que “invariavelmente as pessoas que ainda não aprenderam com o Homem-Jesus a excelência do amor, pensam que são amadas porque se fazem especiais, esquecendo-se que por amarem tornam-se especiais.” Sem desmerecer a existência terrena, importante para nosso progresso ascensional, Joanna reforça que “a existência terrena, embora merecendo respeito e credora de preservação, quando luz o amor ao próximo, cede lugar pessoal em favor daquele transferindo-se por abnegação de uma condição existencial efêmera para outra espiritual e eterna”. É o amor o responsável por espiritualizarmos o que nos é material demais. É o amor o sentimento que nos permite sofrer dor sem sofrimento, dar sem ter e receber apesar de não achar-se merecido. É o amor, o que inverte os sentidos, re-significa valores, aponta soluções que nos garantam a paz interior.

O egoísmo

Para tratar desse assunto Kardec seleciona dois textos. Um de Emmanuel e outro de Pascal. Emmanuel, trás texto vigoroso e positivo, como se norteia toda sua criação literária, afirmando que “o egoísmo, esta chaga da humanidade, deve desaparecer da Terra, cujo progresso moral retarda; ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la subir na hierarquia dos mundos”, nos mostrando que a missão dos viventes é acabar com o egoísmo, condição necessária para evolução planetária. Para isso segundo ele é necessário “coragem porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer os outros”, uma vez que o egoísmo “filho do orgulho, é a fonte de todas as misérias deste mundo. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo a felicidade dos homens”. Conclui Emmanuel que “é a esse antagonismo da caridade e do egoísmo, à invasão desse lepra do coração humano, que o Cristianismo deve não ter cumprido ainda toda a sua missão. E a vós, apóstolos novos da fé é que os Espíritos Superiores esclarecem, a quem incumbe a tarefa e o dever de extirpar esse mal, para dar ao Cristianismo toda a sua força e limpar o caminho das sarças que lhe entravam a marcha”. Pascal nos lembra em seu artigo que “(...) o Cristo não se recusava; aquele que se dirigisse a ele, quem quer que fosse, não era repelido...”, e sugere “começai a dar o exemplo vós mesmos; sede caridosos par com todos indistintamente; esforçai-vos por não mais notar aqueles que vos olham com desdém, e deixai a Deus o cuidado de toda a justiça, porque cada dia, em seu reino, ele separa o joio do trigo”. Trazendo a luz uma contribuição atemporal, ele conclui “o egoísmo é a negação da caridade; ora, sem a caridade não haverá tranqüilidade na sociedade; digo mais, nem segurança...”. Para os moldes atuais de nossa sociedade podemos perceber o quanto esses dois espíritos estavam adiantados em seus raciocínios. Vivemos uma sociedade egoísta, individualista, calcada no ter para ser e que tem mostrado que a segregação oriunda dessa forma de viver nos é prejudicial a todos. Buscamos a segurança em nossas vidas imaginando que a teremos eliminando os que nos afligem, sendo que muitos só nos afligem hoje porque já os eliminamos ontem de terem sonhos factíveis e não delírios materialistas. A caridade, como excelência do amor deve ser nossa bandeira de vida. Em todos os lugares e a todo tempo. Segundo Joanna de Ângelis, através de Divaldo Pereira Franco, na obra: Jesus e o Evangelho – À luz da psicologia profunda, “o egoísmo é úlcera moral que degenera o organismo espiritual da criatura humana” e acrescenta que “a terapia eficiente para tão terrível flagelo é o altruísmo, por desenvolver os sentimentos superiores que defluem da razão e do discernimento ampliando as possibilidades de crescimento interior de cada um no rumo do Infinito”. Apresentado as ações de Jesus como referência à postura que enfrenta os egoísmos pessoais e de massa, ela nos mostra que “a sua conduta foi irrepreensível e a Sua alegria de servir ao Pai através dos Irmãos, demonstrou o verdadeiro sentido do altruísmo que deve frondejar nos sentimentos gerais”. E para finalizar nos concita a reflexão: “enquanto o egoísmo conspira contra a caridade, esta é-lhe a terapia eficiente, única de que dispõe a vida para desenvolver os sentimentos de fraternidade e de justiça entre os homens”.

A fé e a caridade

Para tratar deste tema Kardec nos apresenta um texto de um Espírito que se nomeia: Um Espírito Protetor. Nos lembra o mesmo “que a caridade sem a fé não bastava para manter, entre os homens, uma ordem social capaz de torná-los felizes” e que “Deus nos criou para sermos felizes na eternidade; entretanto, a vida terrestre deve servir unicamente ao nosso aperfeiçoamento moral, que se adquire mais facilmente com a ajuda dos órgãos e do mundo material”. Conclui ele: “a história da cristandade fala de mártires que foram ao suplício com alegria; hoje, e em vossa sociedade, não é preciso, para serdes cristão, nem o holocausto do mártir, nem o sacrifício da vida, mas única e simplesmente o sacrifício do vosso egoísmo, do vosso orgulho e da vossa vaidade”.  Podemos observar aqui que a prática da caridade é o caminho para nosso aperfeiçoamento moral, nossa ascensão espiritual e a maneira pelo qual o mundo terá igualdade social. A fé transformada em obras é a receita para que possamos evoluir com menos sofrimento.

Caridade para com os criminosos

Para tratar desse assunto, Kardec nos trás a comunicação do Espírito que se apresenta como sendo o de Elisabeth de França, que segundo biografias disponíveis morreu na guilhotina. Começa por ratificar que “deveis amar os infelizes, os criminosos, como criaturas de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como a vós mesmos, pelas faltas que cometeis contra a sua lei”, nos provocando reflexões acerca de julgamentos que fazemos “não sabeis que há muitas ações que são crimes aos olhes do Deus de pureza e que o mundo não considera sequer como faltas leves?”. Reforça ela, ainda, que “ a caridade sublime, ensinada por Jesus, consiste também na benevolência concedida sempre, e em todas as coisas, ao vosso próximo” e por isso “deveis àqueles de quem falo o socorro de vossas preces: é a verdadeira caridade. Não é preciso dizer de um criminoso – é um miserável; é preciso expurgá-lo da Terra; a morte que se lhe inflige é muito suave para um ser dessa espécie – não, não é assim que deveis falar.” Para essas tratativas se não temos como auxiliar diretamente, que o façamos pelas preces, pelo entendimento (que não é aceitação) do ocorrido sobre todas as dimensões necessárias não nos esquecendo da lei de causa e efeito, da sobrevivência dos espíritos depois da morte, e acima de tudo do atributo do Pai que é soberanamente justo e bom e saberá cuidar de todos os envolvidos, não nos sendo necessário pensamentos malévolos motivados por nosso senso de justiça mesquinho e pessoal.

Deve se expor a vida por um malfeitor?

Para tratar desse assunto Kardec se vale de uma pergunta que é respondida pelo Espírito Lamennais. Questiona Kardec se devemos nos expor para salvar a vida de alguém que por até ali ser uma pessoa infeliz poderá continuar a sê-lo após o desenrolar da urgência. Lamennais em suas considerações assevera que: “a morte, talvez, chegue muito cedo para ele; a reencarnação poderá ser terrível; lançai-vos, pois homens! Vós a quem a ciência espírita esclareceu: lançai-vos, arrancai-o à sua condenação, e então talvez, esse homem que morreria vos insultando, se atirará em vossos braços”. Se considerarmos os esclarecimentos acerca dos princípios espíritas, da presença justa e boa de Deus, dos exemplos de Jesus, de nossa condição de Espírito, de que evoluímos a cada dia, da lei de causa e efeito, da reencarnação, da influência dos espíritos em nossas vidas, não podemos titubear e auxiliar, confiantes de que o desenrolar do embaraço estará amparado pelas leis morais do Pai.


quarta-feira, 26 de março de 2014

O VELEIRO E A MORTE


Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.

O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.

Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: Já se foi.
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.

O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.

O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo.
E talvez, no exato instante em que alguém diz: Já se foi, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: Lá vem o veleiro.

Assim é a morte.

Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: Já se foi.
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.

O ser que amamos continua o mesmo. Sua capacidade mental não se perdeu. Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso lado.
Conserva o mesmo afeto que nutria por nós. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita no outro lado.

E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: Já se foi, no mais Além, outro alguém dirá feliz: Já está chegando.
Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a viagem terrena.

A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a natureza não dá saltos.
Cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.

A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.


Um dia partimos do mundo espiritual na direção do mundo físico; noutro partimos daqui para o espiritual, num constante ir e vir, como viajores da Imortalidade que somos todos nós.

Victor Hugo

terça-feira, 25 de março de 2014

HOMENS DE FÉ

Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica,
assemelhá-lo-ei ao homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha- Jesus
(Mateus, 7:24)
Os grandes pregadores do Evangelho sempre foram interpretados à conta de expressões máximas do Cristianismo, na galeria dos tipos veneráveis da fé; entretanto, isso somente aconteceu quando os instrumentos da verdade, efetivamente, não olvidaram a vigilância indispensável ao justo testemunho.

É interessante verificar que o Mestre destaca, entre todos os discípulos, aquele que lhe ouve os ensinamentos e os pratica. Daí se conclui que os homens de fé não são aqueles apenas palavrosos e entusiastas, mas os que são portadores igualmente da atenção e da boa vontade, perante as lições de Jesus, examinando-lhes o conteúdo espiritual para o trabalho de aplicação no esforço diário.

Reconforta-nos assinalar que todas as criaturas em serviço no campo evangélico seguirão para as maravilhas interiores da fé. Todavia, cabe-nos salientar, em todos os tempos, o subido valor dos homens moderados que, registrando os ensinos e avisos da Boa Nova, cuidam, desvelados, da solução de todos os problemas do dia ou da ocasião, sem permitir que suas edificações individuais se processem longe das bases cristãs imprescindíveis.

Em todos os serviços, o concurso da palavra é sagrado e indispensável, mas aprendiz algum deverá esquecer o sulime valor do silêncio, a seu tempo, na obra superior do aperfeiçoamento de si mesmo, a fim de que a ponderação se faça ouvida, dentro da própria alma, norteando-lhe os destinos.

(Emmanuel, através de Francisco Cândido Xavier, no livro Pão Nosso, lição 9, páginas 31 e 32)