Introdução

Há muito o que ser aprendido. Há muito o que podemos extrair do que vemos, tocamos, ouvimos, e acima de tudo, sentimos. Nossa sabedoria vem dos retalhos que vamos colhendo ao longo de nossa evolução, que os leva a formar a colcha que somos. Esse espaço é para que eu possa compartilhar das luzes que formam o que Eu tenho sido!!!

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

OS ABISSAIS DILEMAS DO ESPÍRITO

"É muito tênue a linha divisória entre a sanidade e o desequilíbrio mental". Fatores há que podem fazer o indivíduo que transita nas fronteiras dessa linha, simplesmente ultrapassá-la, geralmente impulsionado por dispositivos que anulam as inibições naturais, ao tempo que estimulam o processo fronteiriço com a "loucura", patrocinando delírios e alucinações, distanciando-o da realidade objetiva. As drogas exercem, nesse caso, um importante papel. O centro do problema é, todavia, a personalidade "psicopatológica", que abrange limites tão extensos quanto complexos, podendo residir de forma latente no olhar sublimado de um franciscano. Em meio a todos esses fatores, a injunção espiritual surge como componente primário ou secundário, sempre determinante da trajetória a que estamos sujeitos pelas leis indeléveis da afinidade, compondo, com os demais fatores, a complexa rede que explica, sem justificar, atitudes aparentemente ininteligíveis a que todos estamos  sujeitos, como expectadores ou partícipes, diretos ou indiretos, dos abissais dilemas do Espírito.

A suspeição de insanidade, todavia, tem sido feita, principalmente, a partir da transgressão - nem sempre absoluta - das fronteiras do que seria factível a quem tem o domínio da razão, particularmente se o protagonista da ação criminosa tem uma reação indiferente em relação ao absurdo de que foi vetor. Por essa ótica, o indivíduo é tido como "louco" porque agiu como se fosse, sem que tal diagnóstico tenha sido sequer questionado antes da ação criminosa. Mesmo considerando-se o fato de que o "insano" precisa, na maioria das vezes, de uma razão muito bem articulada para engendrar o mal e planejar o sofrimento, tenta-se assim caracterizá-lo, como que numa tentativa inconsciente de buscar na insanidade a ausência de justificativas para o que as mentes "lúcidas" não conseguem entender como "racional". 

Na verdade, são inúmeras as facetas dessa problemática. Quais os limites da razão? O que dizer da perda temporária do seu domínio? Quando caracterizá-la como primária ou secundária, transitória ou "permanente"? Qual exatamente o papel das drogas, do rancor, do ódio, da amargura, da solidão, do egoísmo, da ignorância, da fome, do desespero, no desencadeamento de atitudes imputadas tão somente a quem possa ser considerado como "louco"? Muitos especialistas das ciências psíquicas querem desconhecer que tais mazelas são comuns na sociedade em que vivemos, que são exíguos os limites entre a razão e a insanidade, que o ser humano vive fronteiriço com a "loucura oficial" e que tais fatores podem levá-lo facilmente a transpassar essas fronteiras.


Também há que considerar não apenas a perda, mas também a ausência da razão como a entendemos. A extensa faixa vibratória composta pelos encarnados abrange desde o chamado "homem-psi", aquele que está em sintonia com as forças vivas do universo, até aquele que vive mentalmente no período neolítico, de cuja expressão não se pode esperar uma consciência cósmica. Daí a grande importância da educação espiritual, particularmente nos primeiros sete anos de vida, quando o Espírito, cuja personalidade está quiescente pelo esquecimento imposto pela reencarnação, o cérebro imaturo não lhe dá meios estruturais de consubstanciar a sua personalidade, estará afeito ao que lhe seja oferecido, jamais relegado ao desprezo: AMOR, sobretudo a DEUS. Depois desse período, com a abertura gradual das comportas da personalidade, a educação familiar lhe irá aparar as arestas, sempre sobre os mesmos alicerces dos primeiros sete anos, estabelecendo limites - se é dado a uma criança tudo que ela quer, ela cresce achando que o mundo deve alguma coisa a ela, podendo fazer tais cobranças no futuro, podendo reagir com violência a uma negativa às suas exigências; exemplificando atitudes - faça o que eu digo, mas faça o que eu faço; estimulando as qualidades e corrigindo os defeitos - o bom jardineiro rega as flores e extrai as ervas daninhas; estimulando as boas e coibindo as más influências - "diga-me com quem andas que direi quem és"; jamais agredindo, a uma criança dá-se "castigo", ao adolescente um limite temporário ao seu futebol, por exemplo, ao seu cinema, nunca a violência - violência gera e exemplifica violência. Se essa sistemática for feita desde os primeiros dias da vida física, teremos grandes chances de sucesso, de colaborarmos na formação de uma "personalidade cósmica", sendo essa uma missão de todos os pais, particularmente dos pais espíritas. 

Como se pode deduzir facilmente, tudo nos leva ao Espírito, TUDO. Como consciência individual ele é o cerne da questão imbricado numa complexa rede onde múltiplos fatores atuam, ele é a consciência que responde, que determina, inclusive, pelas vibrações que emana, as companhias espirituais que lhe irão estimular a tal ou qual caminho - e que também, não esqueçamos, lhe sofrerão as influências. Os atenuantes ou agravantes circunstanciais sempre existirão e sempre serão computados pela Sabedoria Divina na economia da Lei Universal. "Lúcidos" ou "insanos", seremos sempre consciências a caminho da plenitude que um dia virá e que, para cujo objetivo, como parte integrante e atuante da sociedade, temos uma participação efetiva, muito maior que imaginamos - às vezes uma simples atitude salva ou destrói uma vida. 

Sem dúvida, subestimamos a "loucura" que jaz, às vezes, não tão inerte. Ficamos estupefatos diante de um jovem que atira a esmo em direção a seres humanos; diante do parricídio, diante da onda de crimes que assola a nossa sociedade, mas sustamos a inquietação diante dos que morrem sem alarde, todos os dias, aos olhos das "autoridades" constituídas, como moscas, na fome, no abandono, na violência de variada forma, certos de que, no trono da nossa suposta sanidade, jamais seremos atingidos pela dor. Resta-nos, aos que creem em um Ser Superior, pedir-lhe que não nos deixe "enlouquecer", que nos proteja, particularmente, da sanidade oficial, que nos ilumine para que, imbuídos de AMOR, sejamos um espelho a refletir a generosidade das leis universais.


O Espiritismo, sob todos os aspectos, é uma fonte inesgotável de sabedoria, dá-nos subsídios para defrontarmos a problemática do mundo com absoluta sobriedade. A consciência da imortalidade da alma imprime no homem, de uma forma quase tangível, o valor relativo da matéria, distanciando-nos das drogas e, com isso, da "loucura temporária" e da subjugação espiritual dela procedente, imbuindo-nos de coragem para não temermos as "coisas do mundo", aquietando-nos no universo em que estamos imersos, fazendo-nos dele parte integrante, gradativamente percebendo-o e percebendo-nos; formando-nos pela ética comportamental do AMOR, consoante o Evangelho de Jesus, que, de tão verdadeiro e profundo, a pouco e pouco, conquista a ciência oficial, precedendo-a de há muito no contexto da verdade existencial da consciência.

(Dr. J. Djalma G. Duarte Filho, na revista Presença Espírita, nº 235, páginas 32, 33 e 34)


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